Universidade Federal do Tocantins desenvolve projeto para orientar jornalistas sobre cobertura eficaz e atualizada sobre HIV/aids

No Tocantins, um projeto acadêmico voltado à comunicação e à informação sobre HIV/aids tem buscado combater a desinformação nos veículos públicos e privados. O trabalho, que completou um ano em março deste ano, envolve monitoramento e capacitação de jornalistas, influenciadores digitais e outros comunicadores.

‘’Produção e disseminação de (in)formação sobre o imaginário, a prevenção e as concepções sobre o HIV/aids”, projeto liderado pelo professor Tedson Souza na Universidade Federal do Tocantins (UFT) é um passo importante para combater a desinformação e o preconceito sobre HIV/aids na mídia. Segundo ele, quando falamos ou escrevemos sobre HIV/aids, uma  abordagem consciente e humanizada é essencial para mudar a percepção pública e promover uma compreensão mais profunda e empática sobre o tema.“Nosso objetivo é fazer um monitoramento de como a mídia, inicialmente, do Estado do Tocantins tem trabalhado as questões de HIV/aids. Eu percebia uma desinformação dos jornalistas sobre HIV e aids, que muitas vezes era reforçada pelo preconceito”, afirma o coordenador.

Resultados

O levantamento é contínuo e permanente, mas a primeira fase do estudo é focada na coleta de dados de veículos públicos e privados. Alguns dos resultados serão publicados detalhadamente em revista científica, mas já revelou que a cobertura sobre HIV/aids é muitas vezes limitada a campanhas pontuais, como durante o carnaval ou no Dia Mundial de Luta contra a Aids. Isso mostra a necessidade de uma abordagem mais contínua e informativa, abordando temas como a prevenção combinada e o conceito de indetectável = intransmissível (I=I), que significa que uma pessoa que adere ao tratamento depois de seis meses fica com HIV indetectável e  não transmite o vírus.

  • Entre 2021 e 2023, tanto o governo do estado do Tocantins quanto a Prefeitura de Palmas concentraram suas publicações no mês de dezembro. A análise mostra que, dessas publicações, poucas abordam a prevenção combinada, e nenhuma delas explica o conceito.
  • Além disso, as publicações não detalham a diversidade de métodos de prevenção e tratamento disponíveis, limitando-se a anunciar a inauguração de novos serviços públicos, como Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) e ambulatórios. Os serviços parecem não ser direcionados ao público em geral.
  • Em média, foram registradas 30 publicações sobre HIV/AIDS nos canais oficiais da Prefeitura de Palmas e do governo do Tocantins durante o período analisado.

De acordo com Tedson, ao final, todo o levantamento servirá de base para uma publicação que visa esclarecer os comunicadores. É objetivo expandir a conversa através de oficinas, cursos, workshops, palestras, mesas-redondas, dentre outros formatos. “Espero que eles estejam abertos para conversar com a gente sobre HIV”, disse ao comentar que vê grande potencial em conscientizar os profissionais de imprensa. “A gente precisa muito de colegas engajados nessa pauta.”

Vale destacar que a iniciativa conta com o apoio técnico do infectologista Flávio Milagres, que também é Professor do curso de Medicina da Universidade Federal do Tocantins (UFT).

Além da questão da desinformação, a pesquisa ainda aborda o estigma existente em torno do HIV e da aids. “Na realidade, o problema do HIV/aids é o estigma e a falta de acesso aos métodos de prevenção e tratamento”, afirma. O coordenador cita como exemplo o Centro de Referência de Palmas, responsável pela distribuição de medicamentos como PrEP e PEP, que fica distante do centro da cidade, dificultando o acesso para as populações mais vulneráveis.

Com relação à comunidade acadêmica, o projeto foi bem recebido. “Eu pensei que teríamos dificuldades em atrair estudantes, até mesmo pelo tabu do tema, mas fiquei surpreendido positivamente. A resposta foi muito boa, especialmente por parte de alunos que vêm de escolas privadas”, comentou, ressaltando o apoio recebido desde a fase de seleção para o desenvolvimento das atividades.

A expectativa é contar logo com a publicação dos primeiros resultados visando qualificar, informar e transformar a comunicação sobre HIV.

Fonte e Imagens: Agência AIDS