Pessoas vivendo com HIV/aids denunciam abastecimento irregular de medicamentos antirretrovirais em Imperatriz, Maranhão; Estado nega desabastecimento e município permanece sem resposta

A falta de medicamentos antirretrovirais no Serviço de Atendimento Especializado (SAE) de Imperatriz, no Maranhão, tem gerado preocupação e ansiedade entre pacientes e profissionais de saúde do serviço. A irregularidade, que já se arrasta há meses, compromete o tratamento de pessoas vivendo com HIV/aids no município, podendo levar a consequências graves, como a resistência ao tratamento e o avanço da doença.

Uma das médicas infectologistas do serviço, que prefere não se identificar, revelou em entrevista à Agência Aids, que a situação é bastante alarmante. “Os pacientes nos cobram por medicamentos que não estão disponíveis, e não há opções de troca quando falta algum. Estamos enfrentando um desabastecimento crítico. A equipe [médica] fica de mãos atadas”, falou. Entre os medicamentos em falta, ela cita, por exemplo, Dolutegravir, Fostensavir, Lamivudina e Abacavir, todos essenciais para o tratamento.

Pacientes também expressam suas preocupações

Luís Gonzaga, de 59 anos, que faz seu tratamento há mais de 21, afirma que a falta dos antirretrovirais no centro de referência tem sido um problema constante. “Estamos [com irregularidades na distribuição] há dois ou três anos, mas foi mais ou menos nos últimos seis meses que a situação piorou e muito. Mais de dois mil pacientes dependem desses medicamentos aqui”, lamenta o seu Luís, preocupado com a possibilidade de agravamento de sua saúde. Ainda conta que ele e outros pacientes têm que esperar longas horas, e muitas vezes, saem de mãos vazias. “A cidade do lado tem, enquanto aqui estamos sem’’, destacou ao contar que muitos já foram a pé ou de bicicleta para cidades vizinhas tentar retirar os medicamentos.

Lucas Ximenes (26), também é impactado pela situação. “Soube que foi recebida uma remessa no último dia 15 [de setembro], mas ainda faltam alguns, como a Lamivudina. O que nos falam é que a falta de medicação está sendo atribuída à Coordenadoria Estadual de Saúde, que não enviou as doses necessárias”, denuncia.

Lucas, que vive com HIV desde 2016, enfatiza a gravidade da situação. “É um descaso muito grande. Estou muito preocupado com a resistência aos medicamentos que podem surgir entre os pacientes. Nunca vi algo assim nessa proporção para conseguir os medicamentos.”

Outro lado

Desde o dia 13 de setembro, a Agência Aids tem tentado insistentemente entrar em contato com a Secretaria Municipal de Saúde de Imperatriz, mas nenhum dos números disponíveis no site oficial atendeu. Também foram feitas tentativas de contato por telefone com a responsável pela política de aids no município, Marcella Régia Sá Sobrinho, sem sucesso até o momento.

Contatamos ainda a Coordenação de HIV/Aids da Secretaria de Saúde do Estado do Maranhão. Em nota assinada por Jocélia Frazão de Matos, coordenadora de Atenção ao HIV/Aids, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis, foi negada a falta de medicamentos. “Informamos que os medicamentos não têm faltado e estamos atendendo conforme solicitado pelo referido município por meio do Sistema de Controle de Medicamento (SICLOM), conforme orientação do Ministério da Saúde”, declarou.

O espaço continua aberto para esclarecimentos e manifestações.

Fonte: Agência Aids