HIV: pesquisadores testam com sucesso um novo tratamento para estimular o sistema imunológico a combater o vírus
Talvez uma das buscas mais incessantes da medicina atual é pela cura do HIV. Há pelo menos 40 anos, cientistas tentam sem sucesso encontrar um caminho que possa eliminar a doença do mundo. Uma equipe de pesquisadores do Hospital Universitário de Aarhus encontrou uma lacuna que pode ser muito importante na solução do problema.
Embora não tenha sido possível encontrar uma cura ou uma vacina protetora contra o HIV, o tratamento padrão de hoje é muito eficaz para manter a doença sob controle. Hoje, as pessoas com HIV recebem a chamada terapia antirretroviral, que suprime a quantidade de vírus no sangue e restaura parcialmente o sistema imunológico. No entanto, se o tratamento padrão for descontinuado, a quantidade de vírus no sangue aumenta em semanas para o mesmo nível de antes do início do tratamento padrão – independentemente de o paciente ter 10 ou 20 anos de tratamento.
Isso ocorre porque o HIV se esconde no genoma de algumas das células imunes do corpo, e são precisamente essas células que a intervenção visa no projeto de pesquisa liderado pela Dinamarca.
No novo estudo, os pesquisadores estudaram os efeitos de dois tipos de medicamentos experimentais em pessoas recentemente diagnosticadas com HIV.
Os participantes do estudo da Dinamarca e do Reino Unido foram randomizados em quatro grupos, todos os quais receberam o tratamento padrão. Um grupo também recebeu o medicamento Romidepsin, que tem como objetivo evitar que o vírus se escondesse nas células imunológicas do corpo, enquanto outros receberam anticorpos monoclonais contra o HIV, que podem eliminar as células infectadas e fortalecer o sistema imunológico. Um terceiro grupo recebeu o tratamento padrão sem medicamento experimental, enquanto o grupo final recebeu uma combinação do tratamento padrão e os dois tipos de medicamento experimental.
“Nosso estudo mostra que pessoas recém-diagnosticadas com HIV que recebem anticorpos monoclonais juntamente com seus medicamentos habituais para o HIV mostram uma diminuição mais rápida na quantidade de vírus após o início do tratamento e desenvolvem melhor imunidade contra o HIV, e seu sistema imunológico pode suprimir parcial ou completamente o vírus se eles estiverem fazendo uma pausa em seus remédios habituais para o HIV”, explica Jesper Damsgaard Gunst, do Hospital Universitário Aarhus e autor principal do estudo.
Segundo os pesquisadores, os anticorpos monoclonais ajudam o sistema imunológico a reconhecer e matar as células infectadas. Além disso, os anticorpos também se ligam em grandes complexos aos vírus que acabam nos gânglios linfáticos, onde, entre outras coisas, estimulam a capacidade de certas células do sistema imunológico de desenvolver imunidade ao HIV. Dessa forma, o corpo pode controlar a propagação do vírus e se “proteger” dos danos induzidos pela infecção pelo HIV.
“Este estudo é um dos primeiros a ser realizado em seres humanos no qual demonstramos uma maneira de fortalecer a capacidade do próprio corpo de combater o HIV — mesmo quando o tratamento padrão de hoje é interrompido. Portanto, consideramos o estudo um passo importante na a direção de uma cura, apesar de que há um caminho longo a percorrer para isso”, diz Ole Schmeltz Søgaard, Professor de Pesquisa Translacional Viral da Universidade de Aarhus.
Estudos em testes
O estudo dinamarquês já atraiu considerável atenção no exterior e aumentou o interesse em testes experimentais em pessoas com uma infecção por HIV recém-diagnosticada.
O Departamento de Saúde dos EUA recentemente destinou uma grande quantidade de dinheiro para pesquisas nessa área. Além disso, a Fundação Bill e Melinda Gates e uma grande rede de pesquisa tomaram a iniciativa de realizar um sucessor do estudo dinamarquês na África.
O grupo de pesquisa do Dr. Søgaards está trabalhando em um grande estudo a ser realizado em toda a Europa para otimizar o novo tratamento experimental.
Fonte: O Globo