Fundação Saúde conclui sindicância sobre transplantados com HIV sem apontar culpados, destaca Band

O relatório final da sindicância aberta pela Fundação Saúde para apurar as responsabilidades do transplante de órgãos com HIV na Central Estadual de Transplantes concluiu que “não foi possível identificar uma conduta infracional administrativa isolada ou atribuir responsabilidade a um único indivíduo.”

O documento destaca ainda que as falhas “são de natureza sistêmica e multicausal, exigindo medidas corretivas amplas e detalhadas”. O relatório ficou pronto em novembro. Oito pessoas foram ouvidas pela Fundação Saúde.

Após a conclusão do relatório, a Fundação Saúde determinou a abertura de uma nova sindicância para apurar possível infração contratual cometida pelo laboratório PCS Saleme e que os setores do órgão avaliem a implementação de mecanismos para minimizar riscos, além da realização de auditorias para rastrear e corrigir as falhas.

Apesar de não apontar responsáveis pelo erro que permitiu a contaminação de seis pacientes, que passaram a conviver com HIV, a sindicância expôs falhas no processo de coleta de amostras.

Antes da revelação do escândalo dos transplantes, os frascos com as amostras eram identificados com etiquetas escritas a mãos, esparadrapos, fita crepe e com caneta, que recebia rasura na inicial dos pacientes com frequência.

Em seguida, com a necessidade dos retestes pelo Hemorio, uma impressora de etiquetas com código de barras foi comprada para melhor identificação. O relatório aponta, que “se não houver rastreabilidade e identificação adequada, existe o risco de eventos adversos graves que nunca deveriam ocorrer e que podem causar danos graves ou morte do paciente.”

Durante a declaração dada à Fundação Saúde, o diretor da Central de Transplantes do estado do Rio, Alexandre Souza Cauduro, admitiu que outras inconformidades acontecem no processo de transplantes, sem especificar quais.

A Central Estadual de Transplantes também disse que são realizadas duas coletas de amostras sanguíneas nos doadores de órgãos. No entanto, o HemoRio negou a informação e disse que recebe apenas uma única amostra de sangue do doador.

O documento aponta que a contradição pode causar um risco de troca de amostras caso sejam colhidas duas amostras em momentos distintos, “constituindo uma grave falha no processo”.

Dois testes de HIV emitidos pelo laboratório deram falsos negativos. O caso nunca tinha acontecido na história do Sistema Nacional de Transplantes.

O processo criminal de responsabilização dos sócios e funcionários do laboratório PCS Saleme ainda tramita na Justiça do Rio. A primeira audiência do caso vai ser realizada no dia 24 de fevereiro.

Além dos sócios Matheus e Walter Vieira, pai e filho, quatro funcionários respondem em liberdade. Eles foram soltos no final do ano passado, após serem presos de forma temporária e depois preventiva.

Procurada, a Fundação Saúde ainda não se posicionou.

Fonte: Band