Ativista Edison Bezerra chama a atenção para a falta de políticas públicas voltadas à população da terceira idade que vive com HIV/aids
No Dia da Pessoa Idosa, comemorado sempre em 1 de outubro, é importante refletir sobre as necessidades das pessoas vivendo e convivendo com HIV/aids na terceira idade. Por isso, a Agência Aids conversou com quem tem lutado pelos direitos da população +60 vivendo com HIV.
Edison Bezerra, 65, é natural de Presidente Prudente, São Paulo. Teve uma infância tranquila em uma família de classe média. “Tive uma infância muito boa. Minha família era de classe média, estudei em boas escolas e sempre fui muito ligado à minha mãe”, recorda ele. No entanto, aos 13 anos, ao assumir sua sexualidade, as coisas mudaram. ‘‘Naquela época, ninguém falava sobre ‘sair do armário’, o que causou um rebuliço na família”, lembra. Com a discordância sobre sua sexualidade, Edison deixou sua casa aos 17 anos e se mudou para Londrina.
Hoje, é um defensor dos direitos das pessoas vivendo com HIV, especialmente aquelas mais velhas. Ele vive com o vírus há mais de 35 anos e, apesar das dificuldades de saúde, conta que mantém-se ativo em sua luta. “Aquele pai que me tirou de casa por ser homossexual, hoje quem cuida dele sou eu. Nunca tive problemas com a minha mãe, mas ela também está mal de saúde. Tive que voltar para cuidar deles, mas estou sempre atento ao que posso fazer em prol do ativismo”, acrescenta.
Comorbidades
O ativista chama a atenção para as necessidades específicas que afetam a população idosa vivendo e convivendo com HIV/aids, muitas vezes esquecida, sem o devido cuidado. Edison relata que ele próprio enfrenta problemas de saúde que incluem diabetes severa e a perda de um pulmão, apesar de nunca ter tido problemas com a adesão ao tratamento do HIV. Contudo, agora, sente que os medicamentos passaram a lhe causar muitos efeitos adversos.
“Os sistemas e serviços de saúde não estão preparados para nós”, destaca, alertando para o aumento nos índices de infecção por HIV entre os idosos. “Os índices de infecção por HIV aumentaram muito entre os idosos. O Brasil ofertou medicamentos de ponta que são exemplos para o mundo, mas esqueceram que nossa vida ia se prolongar”, complementa enfatizando que os cuidados precisam contemplar, inclusive, a saúde mental destas pessoas.
O ativista, que faz parte da recém criada Rede Brasil de Pessoas Idosas Vivendo e Convivendo com HIV/aids (RBPI), também critica: “Na minha cidade, por exemplo, temos um centro de referência para pessoas vivendo com HIV/aids muito bom, mas há apenas um médico para atender mais de 1.300 pacientes. Como um médico vai dar conta dessa demanda tão grande?”, questiona.
Prevenção para ISTs
Ele defende a necessidade urgente de uma resposta e ações de prevenção que abrangem não apenas o HIV, mas todas as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), pensando na população 60+.
A motivação de Edison para lutar pela causa surge de uma experiência pessoal: ele perdeu um amigo para a aids, o que o impulsionou a se engajar ainda mais ativamente na defesa dos direitos de pessoas vivendo com HIV. “Fiquei anos, até perder esse amigo. Sempre comparo a situação atual com o sistema do Viagra: foi feito para homens, já para a terceira idade, mas não houve trabalho com prevenção”, afirma.
“Parece que há certa resistência em acreditar que os idosos não transam ou que estão contemplados nos serviços do estado e município. O Brasil não está conseguindo atender nem as pessoas mais novas”.
Eleições sem propostas para a terceira idade HIV+
Edison lamenta que os candidatos nas eleições não incluam a saúde dos idosos em suas agendas. “Nenhum deles coloca o idoso vivendo com HIV/aids em pauta. A saúde como um todo precisa ter uma pauta voltada para os idosos. O Brasil está envelhecendo”, enfatiza Edison, lembrando que a sociedade precisa se adaptar a essa realidade.
Além disso, ele é categórico sobre o estigma que ainda cerca o HIV, o que dificulta a busca por cuidados e informações. “O estigma tem atrapalhado a resposta ao HIV. Atrás disso, há todo o mal-estar. As pessoas morrem de outras coisas, para além da aids, e o próprio Ministério da Saúde não está prestando atenção nisso”.
Fonte: Agência Aids