Portal Terra: O número de novas infecções por HIV cresce mais entre a população negra, mas por quê?
Na última segunda-feira (1), o Ministério da Saúde divulgou o Boletim Epidemiológico HIV e Aids 2025, iniciando a campanha do Dezembro Vermelho, mês marcado por ações de prevenção da doença e Infecções Sexualmente Transmissíveis.
O documento, que traz dados relativos ao ano de 2024, apontou que no Brasil houve uma queda em relação à mortalidade. Foram registrados 3,4 óbitos por 100 mil habitantes no ano passado, uma queda de 12,8% em relação ao ano anterior, menor taxa histórica do país.
Embora os dados gerais sejam animadores, uma análise detalhada revela um sinal de alerta significativo: a maioria dos novos casos de infecção por HIV (cerca de 59,7%) foi registrada na população negra (pretos e pardos), em comparação com 49% dos casos entre pessoas brancas.
A análise por gênero também expõe disparidades: mulheres negras representam cerca de 62,9% da concentração de casos, contrastando com 33,9% de casos entre mulheres brancas.
Por que o número de infecções por HIV cresce entre a população negra?
O crescimento do número de infecções por HIV entre a população negra não é um fator biológico, e está associado a um conjunto de fatores estruturais. “Quando analisamos a dinâmica da epidemia de HIV no Brasil, fica evidente que as desigualdades raciais não são um detalhe estatístico, mas um determinante central do risco e do acesso ao cuidado. A população negra enfrenta barreiras estruturais que se acumulam ao longo do tempo”, destaca o infectologista Klinger Soares Faíco Filho.
Para o especialista, alguns fatores determinantes para esse dado são:
- Acesso desigual aos serviços de saúde
- Vulnerabilidade socioeconômica
- Racismo estrutural e institucional
- Baixa oferta de estratégias de prevenção realmente adaptadas à realidade da população negra
Como reduzir a desigualdade racial na incidência de HIV?
Reduzir a desigualdade racial e prevenir novos casos de HIV na população negra exige reconhecer a origem do problema e promover mudanças estruturais. Para o infectologista, o primeiro passo é ampliar o acesso dessa população aos serviços de saúde.
Também é essencial investir em políticas antirracistas no sistema de saúde, com equipes preparadas e protocolos que monitorem disparidades raciais. “Outro ponto é fortalecer estratégias de comunicação e intervenção lideradas por pessoas negras, com mensagens culturalmente relevantes, valorização de lideranças comunitárias e campanhas específicas para grupos mais expostos, como jovens homens negros, mulheres negras e a juventude periférica”, completa.


