OMS lança novas diretrizes para apoiar crianças e adolescentes na descoberta do diagnóstico de HIV

A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou neste mês novas diretrizes com foco em um dos momentos mais delicados no cuidado pediátrico do HIV: o processo de revelação do diagnóstico para a própria criança ou adolescente que vive com o vírus. O documento não trata da divulgação do status sorológico a terceiros, o que configuraria violação de privacidade e, em muitos países, inclusive no Brasil, pode ser considerado crime. A proposta é oferecer caminhos seguros, humanizados e baseados em direitos para que meninas e meninos compreendam sua condição de saúde, com apoio adequado e no tempo certo.

A chamada “divulgação”, neste contexto, refere-se ao momento em que crianças e adolescentes — geralmente infectados por transmissão vertical — são informados, com cuidado e orientação, sobre o fato de viverem com HIV. Quando esse processo é conduzido de forma apropriada, pode trazer benefícios significativos, como fortalecimento do autocuidado, melhora na adesão ao tratamento, redução do estresse emocional e ampliação do apoio social.

Apesar dos avanços no enfrentamento do HIV/aids entre populações mais jovens, a OMS reconhece que a revelação do diagnóstico ainda é um grande desafio. Faltam ferramentas práticas e apoio técnico para que profissionais de saúde, famílias e cuidadores saibam como conduzir esse momento com sensibilidade e segurança.

Atualização esperada há mais de uma década

Desde a última orientação da OMS sobre o tema, publicada em 2011, não haviam sido lançados guias práticos que orientassem os países sobre como apoiar esse processo. Agora, a nova diretriz responde a essa demanda urgente com uma abordagem atualizada, baseada em evidências e centrada no bem-estar dos jovens.

“Esta nova orientação oferece uma visão abrangente de intervenções apropriadas ao desenvolvimento, enfrentando o estigma, promovendo o diálogo entre cuidador e criança e fortalecendo os sistemas de apoio antes e depois da revelação do diagnóstico”, afirmou Wole Ameyan, do Programa Global de HIV, Hepatite e DSTs da OMS.

documento está dividido em duas partes. A primeira apresenta uma revisão de 25 intervenções eficazes para apoiar a revelação do diagnóstico para crianças e adolescentes entre 6 e 19 anos. As estratégias envolvem tanto a preparação dos cuidadores quanto ações específicas de comunicação com os jovens.

A segunda parte traz recomendações sobre temas emergentes, como autonomia na adolescência, abordagens baseadas em direitos humanos, estratégias de enfrentamento do estigma, mensuração de impactos e fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.

Direto ao ponto: direito à verdade e ao cuidado

“As crianças e adolescentes têm o direito de saber e compreender o seu status sorológico”, defende Nicola Willis, diretora executiva da organização comunitária Zvandiri, do Zimbábue. “Discutir o diagnóstico com eles é parte essencial do cuidado. Sabemos que existem estratégias eficazes — agora é hora de colocá-las em prática.”

Para a OMS e especialistas da área, o processo de revelação não é apenas um ato informativo, mas sim uma etapa fundamental para garantir o cuidado integral e o fortalecimento da autonomia progressiva do jovem. A diretriz reforça que isso deve acontecer de forma gradual, respeitosa e com apoio psicológico e social adequado.

Luann Hatane, diretora executiva da Paediatric-Adolescent Treatment Africa (PATA), celebrou o lançamento do documento. “As diretrizes trazem exemplos práticos, estudos de caso e um resumo robusto das intervenções mais atuais. Estamos ansiosos para compartilhar esse material em nossa rede e incorporá-lo às nossas ações de formação.”

Em tempos em que o respeito à privacidade e aos direitos das crianças e adolescentes é mais importante do que nunca, a nova orientação da OMS aponta caminhos para que a verdade seja compartilhada com empatia, cuidado e responsabilidade — promovendo saúde e dignidade para quem vive com HIV desde o início da vida.

Fonte: Agência Aids