Novas diretrizes europeias sobre HIV ampliam foco para sono, obesidade e amamentação

A Sociedade Clínica Europeia de Aids (EACS, na sigla em inglês) divulgou, durante sua 20ª Conferência Europeia de Aids (EACS 2025), realizada em Paris, novas diretrizes clínicas que ampliam a abordagem do cuidado com pessoas vivendo com HIV. Além das recomendações sobre antirretrovirais e profilaxia, o documento agora traz orientações sobre amamentação, obesidade e qualidade do sono — temas que reforçam uma visão mais abrangente da saúde.

O anúncio foi feito pelo professor Jürgen Rockstroh, presidente do painel de diretrizes da EACS, durante a conferência, que reuniu especialistas de todo o mundo para discutir avanços no tratamento e na prevenção do HIV.

Tratamento e prevenção

As atualizações mantêm as recomendações anteriores sobre o início e a troca da terapia antirretroviral (TARV), com uma exceção: pessoas que se infectam com o HIV durante o uso da profilaxia pré-exposição (PrEP) não devem ser tratadas com regimes duplos de TARV. Nesses casos, o tratamento deve começar com darunavir potencializado e dois inibidores da transcriptase reversa nucleosídicos.

Para a profilaxia pós-exposição (PEP), o regime preferencial passa a ser bictegravir/emtricitabina/tenofovir alafenamida (Biktarvy).

Outra diferença importante é a recomendação de realizar um teste de carga viral do HIV antes de iniciar a PrEP, especialmente se houve uma exposição recente de alto risco. Essa orientação difere das diretrizes do Reino Unido, dos Estados Unidos e da Organização Mundial da Saúde (OMS), que indicam o uso de testes rápidos de anticorpos ou testes combinados de antígeno/anticorpo.

Amamentação com segurança

Uma das mudanças mais significativas diz respeito à alimentação infantil. Pela primeira vez, as diretrizes da EACS passam a recomendar que mulheres vivendo com HIV, com adesão completa e supressão viral, possam amamentar com segurança, se assim desejarem — desde que a amamentação seja acompanhada por monitoramento rigoroso da carga viral.

O aleitamento materno deve ser limitado a até seis meses, já que o risco de transmissão aumenta com o tempo. Caso a carga viral da mãe ultrapasse 50 cópias/ml, a amamentação deve ser interrompida e alternativas de alimentação devem ser adotadas, incluindo a consideração de PEP para o bebê.

As diretrizes também orientam que as mulheres recebam informações claras e acessíveis sobre os riscos e benefícios da amamentação antes do parto, permitindo uma decisão compartilhada com a equipe de saúde.

Sono e bem-estar

O novo documento inclui, pela primeira vez, uma seção dedicada à saúde do sono. Profissionais de saúde devem perguntar às pessoas com HIV, pelo menos a cada dois anos, “como está o seu sono?”. Em caso de queixas, deve-se investigar a possibilidade de insônia, sonolência diurna ou apneia do sono, além de fatores de risco modificáveis.

As diretrizes também recomendam um rastreamento anual do uso de substâncias e entrevistas motivacionais para apoiar pessoas que desejam reduzir ou interromper o consumo de álcool.

Obesidade: nova definição e abordagem

Outra novidade é a introdução de uma nova definição de obesidade e de métodos mais precisos para o diagnóstico. A EACS destaca que a obesidade é uma condição relacionada ao excesso de gordura corporal, e não apenas ao índice de massa corporal (IMC). Por isso, recomenda-se o uso de exames como densitometria óssea (DEXA) ou medições da circunferência abdominal e relação cintura-quadril.

A diretriz também diferencia obesidade subclínica — quando há excesso de gordura, mas sem disfunção orgânica — de obesidade clínica, que se manifesta com complicações como insuficiência cardíaca, dor crônica nas articulações, síndrome dos ovários policísticos, incontinência urinária e dificuldades respiratórias.

O tratamento deve priorizar mudanças no estilo de vida, incluindo dieta equilibrada e atividade física, além de medicamentos como os agonistas do receptor GLP-1 (a exemplo da semaglutida) e, quando indicado, cirurgia bariátrica.

“Cuidar de pessoas com HIV é muito mais do que controlar o vírus. É sobre promover qualidade de vida”, destacou o professor Jürgen Rockstroh durante a conferência em Paris.

Fonte: Agência Aids com informações do AidsMap