Infectologista Lilian Avilla destaca que a PrEP é uma estratégia eficaz de prevenção durante o Carnaval; confira as principais dúvidas sobre a profilaxia

Com a proximidade do Carnaval, a diversão está garantida: blocos de rua, desfiles das escolas de samba, festas, encontros e muita energia. No entanto, em meio à folia, a prevenção também deve estar em foco. Para aqueles que estão considerando iniciar a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) como método de proteção contra o HIV, ainda há tempo de aderir à medicação e curtir o período festivo de forma segura.

O que é a PrEP?

A PrEP é um método de prevenção que ajuda a evitar a infecção pelo HIV. Pode ser tomada diariamente ou sob demanda, conforme a necessidade de cada indivíduo. Composta por dois medicamentos, emtricitabina e tenofovir, a medicação impede que o HIV se replique nas células do organismo, garantindo proteção eficaz quando tomada corretamente.

Pensando nesse período de grande aglomeração e interação social, a infectologista Lilian Avilla, do Hospital Edmundo Vasconcelos, explica os principais aspectos que devem ser considerados antes de iniciar a PrEP. Segundo ela, é fundamental compreender a amplitude da prevenção: “É importante saber que a PrEP é apenas uma das medidas disponíveis para evitar a infecção pelo HIV. Ela, com certeza, é importante e eficaz, mas não deve ser tomada como se fosse uma forma garantida de também impedir a infecção por outras infecções sexualmente transmissíveis – afinal, ela não protege contra sífilis, gonorreia, clamídia, etc”, esclarece.

A especialista enfatiza que a PrEP deve ser combinada com outros cuidados, como o uso de preservativos, lubrificantes, testagem regular para ISTs e vacinação contra doenças transmissíveis pelo contato sexual. Outro ponto essencial é a testagem para HIV antes do início do uso: “O início da PrEP só deve acontecer mediante a comprovação da ausência de infecção pelo HIV – portanto, é necessário se testar antes de iniciar a medicação. Caso o teste seja positivo para HIV, os cuidados são diferentes e a medicação é outra”, destaca.

Como funciona a PrEP sob demanda?

A PrEP sob demanda é uma alternativa para quem deseja se proteger, mas sem tomar a medicação diariamente. O esquema de uso segue a regra 2-1-1: “Utilizamos o esquema 2-1-1 na PrEP sob demanda, na qual o indivíduo toma 2 comprimidos 2 a 24 horas ANTES da relação sexual, 1 comprimido 24h depois da primeira dose e mais 1 comprimido 48h depois da primeira dose – ou seja, 3 dias seguidos, sendo 2 comprimidos no primeiro, 1 comprimido no segundo e 1 comprimido no terceiro”, explica a especialista.

Porém, existem algumas limitações para essa modalidade. “Os estudos de PrEP sob demanda não apresentam evidências de proteção para relações sexuais (neo)vaginais receptivas”, alerta Dra. Lilian. Dessa forma, essa estratégia é mais recomendada para homens cisgêner o e mulheres transgêner o que não fazem uso de hormônio à base de estradiol, desde que tenham relações sexuais esporádicas (menos de duas vezes por semana) ou que consigam planejar com antecedência a utilização da medicação.

Adesão à PrEP e interação com substâncias

A especialista reforça que a adesão correta é essencial para a eficácia da PrEP. Durante o Carnaval, manter uma rotina de uso pode ser desafiador. Para evitar falhas, Dra. Lilian recomenda estratégias como:

  • Configurar alarmes no celular;
  • Usar aplicativos que enviem lembretes;
  • Marcar a medicação em um calendário físico;
  • Guardar os comprimidos em locais visíveis, como ao lado da cama;
  • Transportar doses extras em bolsas ou pochetes;
  • Pedir ajuda de uma pessoa de confiança para lembrar da medicação.

Sobre o consumo de álcool e outras substâncias, a infectologista alerta: “Existem estudos indicando que o álcool pode interferir no metabolismo de alguns antirretrovirais, reduzindo a sua eficácia. E, de maneira geral, o uso de drogas é associado à baixa adesão a tratamentos e à modulação dos níveis circulantes de medicação. Idealmente, o medicamento não deve ser tomado em conjunto com outras substâncias, para evitar qualquer prejuízo à sua absorção e metabolismo”.

Acesso à PrEP no Brasil

No Brasil, a PrEP está disponível gratuitamente pelo SUS, inclusive para estrangeiros que estejam no território nacional. “Estrangeiros também podem retirar a PrEP pelo SUS, pois um dos princípios do SUS é que a saúde é um direito de todos os indivíduos que estejam em território nacional, independentemente de sua nacionalidade”, explica Dra. Lilian.

Fonte: Agência Aids