Gshow: Dados do Ministério da Saúde mostram que apenas 8,8% dos usuários da PrEP contra HIV são mulheres

Apenas 8,8% dos usuários da Profilaxia Pré-Exposição ao vírus do HIV – a chamada PrEP – , são mulheres, segundo dados do Ministério da Saúde de 2025. Atualmente, o país contabiliza mais de 122 mil usuários ativos no uso da medicação (veja no gráfico abaixo), mas tendo em sua minoria as mulheres.

Esta semana, o gshow, que está publicando uma série de reportagens sobre as medicações que atuam antes e após a exposição ao vírus, foi conversar com o médico infectologista Rodrigo Molina – consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia e professor da Universidade Federal do Triangulo Mineiro – para entender por que o número de mulheres buscando prevenção contra o HIV é tão baixo.

Vale lembrar que tanto a profilaxia, quanto a medição pós-exposição são indicadas para qualquer pessoa em situação de vulnerabilidade para o HIV, independentemente da identidade, gênero ou orientação sexual.

“A gente tem um índice menor de mulheres cis, primeiro por uma percepção de risco mais baixo, muitas não se veem como vulneráveis ao HIV, principalmente aquelas que estão em relacionamentos heterossexuais estáveis. E essa percepção é reforçada pela ausência de campanhas voltadas para o público feminino”, pontua Molina.

Rodrigo Molina destaca ainda que o estigma e as barreiras culturais também dificultam o acesso à medicação.

“A medicação pode ser associada à promiscuidade ou a um comportamento sexual de risco, o que pode gerar receio nas mulheres de procurarem o serviço por medo de julgamento”, explicou.

Um outro ponto levantado pelo especialista é a falta de abordagem sobre o tema nos serviços ginecológicos da atenção básica, especialmente quando se trata de mulheres trans em situação de rua, vítimas de violência ou moradoras de periferias. As mulheres trans representam 2,7% do total das 8,8% das usuárias.

“Em relação a essa parcela, a gente percebe uma violência estrutural. Muitas enfrentam discriminação nos serviços de saúde, o que reduz a procura por métodos de prevenção. Não temos uma política pública específica para esses grupos, e o acesso ainda é muito centralizado”, destacou Molina.

De acordo com Rodrigo Molina, a oferta e a divulgação da PrEP e da PEP estão concentradas nos grandes centros urbanos e em serviços especializados, o que dificulta o acesso em regiões mais afastadas: “A comunicação do que é o serviço geralmente não alcança as populações mais vulneráveis da forma como gostaríamos e, quando chega, muitas vezes a linguagem não é acessível.”

O recorte social no acesso

Segundo o Painel de Monitoramento da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), de 2025, do Ministério da Saúde, o Brasil contabiliza atualmente pouco mais de 122 mil usuários ativos no uso da medicação. No entanto, o perfil predominante ainda é restrito:

* 91,2% são homens ( somados gays, heterossexuais, homens trans e travestis)

* 8,8% são mulheres, das quais 6,1% são mulheres cis, e 2,7% são mulheres trans

Os números do Ministério da saúde mostram ainda que, entre todos esses usuários, 54,5% são de pessoas brancas, e que 71, 1% concluíram os estudos, revelando ainda uma exclusão de parte das populações mais vulneráveis, como mulheres, pessoas negras e com baixa escolaridade.

O gshow entrou em contato com o Ministério da Saúde para saber se existe algum estudo ou política em andamento para melhorar esses números, mas até a publicação desta matéria, não recebeu resposta.

PrEP e PEP na rede privada

O especialista reforça que, embora ainda seja pouco divulgado, é possível adquirir a medicação na rede privada com uma receita médica, além do acesso gratuito pelo SUS.

“Quem quiser comprar, precisa apresentar uma prescrição médica e procurar redes de farmácias que comercializam o medicamento. O grande obstáculo é o preço: uma caixa com 30 comprimidos costuma ser inviável para grande parte da população brasileira, principalmente por se tratar de um uso contínuo e sem reembolso pelos planos de saúde. Isso acaba evidenciando uma desigualdade, já que a oferta na rede privada atinge pessoas de maior renda”, explicou.

O que são PrEP e PEP?

A PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) é um método de prevenção ao HIV e consiste na ingestão diária de um comprimido que prepara o organismo para enfrentar um possível contato com o vírus, impedindo sua replicação no corpo.

É indicada para o público em situação de vulnerabilidade para o HIV, como pessoas que mantêm relações sexuais com múltiplos parceiros e não utilizam preservativo com regularidade, independentemente da orientação sexual ou identidade de gênero.

Já a PEP (Profilaxia Pós-Exposição) é uma medida emergencial utilizada após uma exposição ao HIV e outras ISTs, considerada de alto risco. Ela deve ser iniciada em até 72 horas após a exposição e tomada por 28 dias consecutivos.

Já a PEP é indicada para pessoas que passaram por exposição ao HIV recente, como em relações sem proteção, violência sexual ou acidentes com material biológico.

Tanto a PrEP, quanto a PEP estão disponíveis gratuitamente pelo SUS.

 

Fonte: Gshow