Falta de insumos ameaça resposta global ao HIV: relatório do Unaids acende alerta para 2030

Um novo relatório do Unaids acende um alerta sobre um dos principais pilares da resposta global ao HIV: os insumos essenciais. De acordo com o documento “Focused Analysis on HIV Commodities”, há um risco crescente de escassez de preservativos, medicamentos antirretrovirais, autotestes e outros produtos fundamentais na prevenção e no tratamento do HIV. E um novo agravante se soma à crise: os impactos dos cortes de financiamento do Governo dos Estados Unidos, especialmente por meio do PEPFAR, o maior programa internacional de resposta ao HIV/aids.

De acordo com dados atualizados até 28 de abril de 2025, a pausa e suspensão súbita da assistência externa norte-americana resultaram em um aumento multifatorial dos riscos e incertezas em 56 países — todos eles apoiados pelo PEPFAR em algum grau. Os efeitos já são visíveis: cerca de 14% desses países relataram ter apenas seis meses ou menos de estoque de pelo menos uma linha de antirretrovirais (ARVs), enquanto 23% indicaram a mesma limitação para preservativos ou PrEP, ferramentas centrais da prevenção combinada.

As consequências atingem também a realização de testes: 21% dos países apontaram estoques críticos de ao menos um tipo de insumo para diagnóstico do HIV. A situação afeta diretamente a confiança da população nos serviços de saúde. Segundo o Unaids, 18% dos países já enfrentam reações públicas preocupadas com possíveis interrupções no acesso ao tratamento gratuito.

Falhas na distribuição e fechamento de serviços

Além da escassez, muitos países têm recorrido a medidas emergenciais como a redução do número de unidades que oferecem antirretrovirais, cortes nos períodos de dispensação prolongada, limitações à troca de regimes de tratamento e redistribuição urgente de estoques. Em alguns locais, as unidades de saúde sequer recebem os insumos que estão fisicamente disponíveis no país, devido a problemas graves de gestão da cadeia de suprimentos. Ao todo, 46% dos países analisados relataram dificuldades logísticas que comprometem a chegada dos produtos até os pacientes.

Mesmo diante de cortes orçamentários e instabilidade, organizações lideradas por comunidades continuam sendo fundamentais. Elas têm atuado no combate a rumores, no engajamento social e na defesa de medidas para mitigar os impactos da crise. Algumas autoridades nacionais, por sua vez, já aprovaram orçamentos emergenciais e contam com o apoio do Fundo Global para suprir lacunas imediatas por meio de estoques remanescentes e reinvestimento de economias de subsídios.

O risco para a meta de 2030

O Unaids alerta que o efeito em cadeia da redução do apoio norte-americano pode ter impactos duradouros nos mercados globais. A ausência de previsibilidade nos pedidos pode afetar os preços, o fornecimento e a produção de medicamentos genéricos acessíveis — base de muitas respostas nacionais ao HIV.

“O sucesso da resposta ao HIV depende não apenas de políticas e estratégias, mas também do acesso consistente e equitativo a bens de saúde”, destaca o relatório. Sem insumos, não há prevenção, nem diagnóstico, nem tratamento eficaz. Com 2030 se aproximando rapidamente, a comunidade internacional enfrenta uma encruzilhada: ou investe de forma coordenada e sustentável, ou arrisca comprometer décadas de avanços contra a epidemia de HIV/aids.

Clique aqui e leia o relatório na íntegra (em inglês)

Fonte: Agência Aids