Diagnóstico de HIV: como abordagem afeta saúde mental de pacientes – Terra

Nos anos 80, quando a epidemia da AIDS atingiu o mundo e vitimou milhares de pessoas, receber um diagnóstico positivo de infecção pelo HIV era considerado uma sentença de morte. Quatro décadas depois, o cenário é outro: com tratamento gratuito e completo no Sistema Único de Saúde, pessoas que vivem com o HIV podem levar uma vida normal e saudável no Brasil.

Ainda assim, muitas destas pessoas acabam sendo frequentemente afetadas por sofrimentos psíquicos. Uma pesquisa da North American AIDS Cohort Collaboration on Research and Design, publicada na revista AIDS em fevereiro de 2023, revelou que cerca de 55,1% das pessoas com HIV foram diagnosticadas com algum transtorno mental, sendo depressão (39%) e ansiedade (28%) os mais comuns. Ao todo, 22.896 pessoas com HIV, maiores de 18 anos, foram entrevistadas entre 2008 e 2018.

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O estigma enraizado na sociedade faz com que pacientes ainda tenham sentimentos como medo e solidão. Gisele Gosuen, infectologista e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SIB), conta que, ao receber o diagnóstico reagente conclusivo, muitos pacientes se perguntam: “Por que comigo?”.

Por isso, a abordagem do profissional da saúde tem papel fundamental neste momento. Porém, nem todos os pacientes têm a sorte de encontrar alguém qualificado. Muitas vezes, o problema começa ainda no diagnóstico, quando a abordagem de um profissional da saúde é inadequada. Por ser um tema delicado, o momento do diagnóstico exige cuidado por parte do profissional da saúde responsável pela notícia.

Um diagnóstico dado de maneira insensível pode criar terror desnecessário, diminuir perspectivas positivas de futuro e até mesmo afastar pacientes do tratamento. Para a infectologista Gisele Gosuen, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a notícia deve ser dada seguindo alguns critérios importantes:

“O profissional de saúde que informa sobre o diagnóstico deve fazê-lo de maneira calma e empática, em local privado e dando informações sobre o tratamento. Deve ser tranquilo, com orientações sobre a sobrevida com uma doença crônica que, apesar de ainda não ter cura, promove a oportunidade de viver tanto quanto uma pessoa que não vive com HIV,”

A especialista listou alguns erros que não podem ser cometidos de jeito nenhum:

  • Ser extremamente direto, sem preparar o paciente para o diagnóstico;
  • Julgamentos morais e de valor;
  • Fazer com que a pessoa se sinta culpada pelo resultado;
  • Usar linguagem muito técnica, que comprometa a compreensão sobre a infecção e o tratamento;
  • Revelar o diagnóstico para terceiros.

O treinamento dos profissionais é essencial neste momento: “Geralmente, a revelação diagnóstica é feita por profissionais de saúde que tenham sido capacitados para facilitar o vínculo com o serviço de saúde e esclarecer a importância da adesão ao tratamento”, explica.

Fonte: Terra