Dia Mundial do HTLV: o vírus invisível que pede atenção, prevenção e cuidado

Hoje, 10 de novembro, é celebrado o Dia Mundial de Conscientização sobre o HTLV, o vírus linfotrópico de células T humanas — uma infecção silenciosa, ainda pouco conhecida, mas capaz de causar doenças graves e afetar milhares de pessoas no Brasil. A data chama atenção para a necessidade de ampliar a informação, fortalecer políticas públicas e combater o estigma que ainda cerca o tema.

O HTLV foi o primeiro retrovírus humano identificado, no início da década de 1980. Existem dois tipos principais: o HTLV-1, associado a doenças como leucemia/linfoma de células T e à mielopatia associada ao HTLV (HAM/TSP), e o HTLV-2, cuja relação com enfermidades é menos clara. A transmissão ocorre pelo contato com sangue contaminado, compartilhamento de seringas, relações sexuais desprotegidas e de mãe para filho, principalmente durante a amamentação. Apesar de ser conhecido há mais de quarenta anos, o vírus segue fora do radar da maioria das pessoas e, muitas vezes, também da rotina dos serviços de saúde.

Segundo estimativas internacionais, entre 5 e 10 milhões de pessoas vivem com o vírus no mundo — e o Brasil está entre os países com maior prevalência, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. No entanto, a subnotificação e a ausência de triagem ampla dificultam um retrato fiel da realidade. O resultado é uma infecção que continua se espalhando de forma discreta, sem a resposta coordenada que outras doenças infecciosas já conquistaram.

Avanço importante: o exame no pré-natal

Nos últimos anos, o Brasil deu um passo histórico ao incluir o teste para HTLV no protocolo de exames do pré-natal. A medida visa identificar gestantes infectadas e orientar ações que evitem a transmissão vertical — ou seja, da mãe para o bebê. Essa iniciativa integra uma meta nacional de eliminação da transmissão vertical do HTLV, alinhada ao compromisso do país com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e com as estratégias da Organização Mundial da Saúde (OMS).

A triagem precoce permite oferecer acompanhamento especializado e, quando indicado, orientar a suspensão da amamentação, já que o vírus pode ser transmitido pelo leite materno. Essa política representa um avanço importante, mas especialistas alertam que o desafio agora é garantir a implementação plena da testagem em todo o território nacional, com cobertura equitativa e formação adequada dos profissionais de saúde.

Mesmo com avanços recentes, o desconhecimento sobre o HTLV ainda é um dos principais obstáculos. Muitas pessoas infectadas não sabem o que é o vírus, suas formas de transmissão ou como se prevenir. Entre profissionais de saúde, ainda há lacunas na formação e na rotina de atendimento, o que atrasa o diagnóstico e o encaminhamento correto. Ampliar campanhas de comunicação, investir em capacitação e fortalecer a vigilância epidemiológica são passos fundamentais para mudar esse cenário.

Desigualdades e vulnerabilidades

O impacto do HTLV é desproporcional: atinge principalmente populações vulneráveis, como mulheres negras, moradores de periferias urbanas, comunidades ribeirinhas e povos indígenas. Nessas regiões, a dificuldade de acesso a testes e acompanhamento médico agrava o risco de transmissão e limita as possibilidades de prevenção. A resposta ao vírus precisa levar em conta as desigualdades regionais e sociais, garantindo estratégias adaptadas à realidade de cada território.

Além das barreiras estruturais, o HTLV carrega um fardo simbólico: o estigma. Muitas pessoas relatam medo, culpa ou isolamento após o diagnóstico. Por isso, redes de apoio, grupos de convivência e políticas de acolhimento têm papel essencial na construção de uma resposta mais humana e inclusiva. Informação clara, sem alarmismo, é a melhor ferramenta para combater o preconceito e garantir dignidade às pessoas que vivem com o vírus.

Caminhos para avançar

Especialistas apontam que o Brasil tem condições de se tornar uma referência global no enfrentamento ao HTLV — desde que mantenha o foco na informação, na prevenção e na atenção integral. É preciso consolidar o teste no pré-natal, ampliar o diagnóstico em adultos, padronizar protocolos de acompanhamento e fortalecer os serviços de referência.

Neste Dia Mundial de Conscientização sobre o HTLV, a mensagem é urgente: o vírus não pode continuar invisível. Tornar o HTLV parte da agenda pública, garantir o diagnóstico e apoiar quem vive com a infecção são passos essenciais para um país mais justo e saudável. A meta de eliminar a transmissão vertical é um marco — e também um lembrete de que o conhecimento e o cuidado são as principais armas contra o silêncio que ainda cerca o HTLV.

Fonte: Agência Aids