CROI 2025: Testagem para HIV precisa ser simplificada para garantir o futuro da PrEP injetável, revela estudo
A Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI 2025), realizada na última semana em São Francisco, destacou um grande desafio para a expansão da profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP) injetável: a complexidade e os custos dos testes de HIV exigidos para o uso da medicação. Com os recentes cortes no financiamento do Plano de Emergência do Presidente dos EUA para o Alívio da Aids (PEPFAR), especialistas alertam que a simplificação desses requisitos pode ser essencial para garantir o futuro dessa estratégia de prevenção.
Segundo dados apresentados pela Dra. Cissy Kityo, diretora do Joint Clinical Research Centre de Uganda, o número de pessoas que receberam PrEP ao menos uma vez cresceu de um milhão em 2021 para oito milhões em 2024, impulsionado majoritariamente pelo financiamento do PEPFAR. Atualmente, mais de 90% da distribuição da PrEP no mundo é financiada pelo programa.
No entanto, um estudo recente do Instituto Burnet, na Austrália, projeta que, caso os cortes do PEPFAR sejam mantidos, até 10,75 milhões de pessoas poderão contrair o HIV até 2030, resultando em 2,93 milhões de mortes adicionais. Ainda que parte do financiamento seja compensada ou os custos reduzidos, o impacto ainda será significativo: cerca de 4,43 milhões de novas infecções e 770.000 mortes.
Testes rigorosos encarecem e dificultam a adesão à PrEP
Apesar do potencial da PrEP injetável de ação prolongada, como os medicamentos lenacapavir e cabotegravir semestrais, os rigorosos protocolos de testagem para HIV estão dificultando sua expansão. Enquanto o tratamento do HIV exige testes semestrais, a PrEP demanda exames trimestrais – e, no caso da PrEP injetável, a recomendação é de um teste no primeiro mês e depois a cada dois meses.
Os testes de RNA viral, que podem detectar o HIV mais cedo que os testes rápidos de anticorpos, são altamente recomendados para o início da PrEP, mas apresentam um custo elevado, variando entre US$ 33 e US$ 85 por teste, além do alto valor dos equipamentos necessários. Já os testes rápidos de anticorpos, muito mais acessíveis (custando entre US$ 0,50 e US$ 3,00), são amplamente utilizados em programas de saúde pública.
O que diz a OMS
De acordo com a Dra. Cheryl Case Johnson, da Organização Mundial da Saúde (OMS), exigir exames de RNA para todos os usuários de PrEP não é viável, especialmente em países de baixa renda. Um estudo da Universidade de Washington estimou que, para detectar um único caso adicional de HIV usando o teste de RNA, seria necessário testar mais de 5.000 pessoas, a um custo entre US$ 47.000 e US$ 450.000.
Diante desse cenário, a OMS pretende reafirmar o uso de testes rápidos padrão para a PrEP, inclusive na modalidade injetável. Além disso, a organização recomenda a inclusão do autoteste como uma alternativa viável, já que ele oferece maior acessibilidade e conveniência, principalmente em comunidades com difícil acesso a centros de saúde.
No Quênia, um estudo modelou diferentes métodos de testagem e concluiu que, embora o autoteste oral possa apresentar mais riscos de erro na identificação de infecções recentes, a diferença no impacto geral da resistência aos medicamentos é mínima. Por isso, a OMS reforça que testes rápidos combinados podem ser a melhor alternativa para equilibrar confiabilidade e acessibilidade.
Enquanto especialistas e entidades globais buscam alternativas para manter o acesso à PrEP, usuários ao redor do mundo já incorporam o autoteste como parte de sua rotina de prevenção. Pangpond, um jovem tailandês que utiliza PrEP, relatou sua experiência: “A clínica me enviou o kit de autoteste de HIV. Consultei-os online na primeira vez que usei, depois enviei o resultado e recebi a PrEP. Foi incrivelmente conveniente e me deu tranquilidade para continuar minha vida com segurança.”
Diante dos desafios financeiros e logísticos, a flexibilização dos requisitos de testagem pode ser um passo essencial para garantir que a PrEP injetável cumpra seu potencial e ajude a reduzir significativamente as novas infecções por HIV até 2030.
Fonte: Agência Aids com informações do site AidsMap