CROI 2025: Estudo revela que mulheres cisgênero com alta adesão à PrEP, usando uma combinação de tenofovir alafenamida e emtricitabina, apresentam baixo risco de infecção por HIV
Um estudo apresentado na Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI 2025), realizada no começo de março, em São Francisco, apontou que a infecção pelo HIV entre mulheres cisgênero que fazem uso da profilaxia pré-exposição (PrEP) com a combinação tenofovir alafenamida e emtricitabina (TAF/FTC) é rara quando há boa adesão ao medicamento.
Os dados vêm do estudo PURPOSE 1, que acompanhou 5.338 mulheres cisgênero na África do Sul e em Uganda. O estudo comparou a eficácia do lenacapavir injetável com dois tipos de PrEP oral: a combinação mais antiga e amplamente utilizada de tenofovir disoproxil e emtricitabina (TDF/FTC) e a formulação alternativa TAF/FTC. Até então, a PrEP com TAF/FTC não havia sido testada em mulheres cisgênero, razão pela qual ainda não havia sido aprovada para essa população.
Segundo os pesquisadores, a formulação TAF/FTC tem a vantagem de ser absorvida mais rapidamente pelas células, reduzindo potenciais efeitos colaterais nos rins e nos ossos. Além disso, sua alta concentração nas células pode proporcionar um nível de proteção mais estável, mesmo diante de adesão parcial ao tratamento.
Resultados do estudo
Durante o estudo, nenhuma das mulheres que utilizaram o lenacapavir injetável foi infectada pelo HIV. Entre aquelas que utilizaram PrEP oral, foram registrados 39 casos de infecção entre as que usaram TAF/FTC e 32 entre as que utilizaram TDF/FTC.
A incidência do HIV foi 16% menor entre mulheres que utilizaram TAF/FTC e 30% menor entre aquelas que usaram TDF/FTC, quando comparadas a um grupo externo que não participou do estudo. No entanto, essas diferenças não foram estatisticamente significativas.
Um aspecto relevante foi observado pela Dra. Flavia Kiweewa, da Makerere University, em Uganda. Ela destacou que, das mulheres que tiveram infecção pelo HIV enquanto estavam alocadas para o grupo do TAF/FTC, quase todas tomavam menos de três comprimidos por semana. Apenas duas infecções ocorreram em mulheres com maior adesão: uma delas contraiu um vírus resistente ao tenofovir e à emtricitabina, e a outra representa o único caso inexplicado de infecção entre mulheres que seguiam corretamente o esquema de PrEP.
Com base nesses dados, a pesquisadora estimou que, entre mulheres que tomavam pelo menos duas pílulas de TAF/FTC por semana, o risco de infecção pelo HIV foi reduzido em 89%. Esse nível de eficácia é superior ao observado em estudos anteriores com TDF/FTC, que indicavam uma redução de 87% para quatro ou mais doses semanais.
Comparação com outros estudos
Os achados do PURPOSE 1 reforçam resultados anteriores do estudo DISCOVER (2019), que avaliou a eficácia da PrEP oral em homens gays, bissexuais e mulheres transgênero. Na ocasião, pesquisadores identificaram que ninguém que tomava TAF/FTC e foi infectado pelo HIV consumia mais de dois comprimidos por semana. Por outro lado, algumas pessoas que usavam TDF/FTC e tiveram infecção estavam tomando entre dois e quatro comprimidos semanais.
O DISCOVER indicou que o TAF/FTC foi 45% mais eficaz na prevenção do HIV do que o TDF/FTC, uma diferença quase estatisticamente significativa. No entanto, os dados do PURPOSE 1 não seguiram a mesma tendência, já que a incidência do HIV foi ligeiramente menor entre as mulheres que usaram TDF/FTC.
Apesar dessas variações, os especialistas apontam que a adesão ao tratamento continua sendo o principal fator de proteção. Segundo os pesquisadores, mais análises são necessárias para entender melhor os padrões de adesão entre as mulheres que tiveram infecção pelo HIV enquanto usavam PrEP oral.
Fonte: Agência Aids com informações do site AidsMap