Crianças vivendo com HIV ainda enfrentam desigualdade no acesso ao tratamento no mundo

Apesar de décadas de avanços no combate ao HIV, as crianças ainda estão entre as mais vulneráveis na resposta global à epidemia. Neste 7 de maio, quando se celebra o Dia Internacional da Criança Exposta e Infectada pelo HIV, organizações internacionais como o Unaids, Unicef e OMS alertam para a desigualdade gritante no acesso ao diagnóstico e tratamento, especialmente entre crianças pequenas e adolescentes.

Segundo dados do Unaids, aproximadamente 2,4 milhões de crianças e adolescentes (0 a 19 anos) vivem com HIV em todo o mundo. Apenas no último ano, 120 mil crianças entre 0 e 14 anos foram infectadas, e 76 mil morreram por causas relacionadas à aids — mortes que poderiam ser evitadas com acesso precoce à testagem e tratamento.

Enquanto a cobertura da terapia antirretroviral atinge 77% entre os adultos com HIV, apenas 57% das crianças com menos de 15 anos têm acesso ao tratamento. A consequência é devastadora: sem tratamento, metade das crianças infectadas morre antes dos dois anos de idade.

“As crianças representam apenas 3% das pessoas vivendo com HIV, mas responderam por 12% das mortes relacionadas à aids em 2023”, destaca um relatório do Unicef.

África lidera em infecções — mas também em respostas eficazes

A África Subsaariana concentra mais da metade das crianças vivendo com HIV, com mais de 1,3 milhão de casos. Em 2022, 110 mil novas infecções foram registradas na região, e cerca de 70 mil crianças morreram por falta de acesso ao tratamento.

Apesar dos números preocupantes, há sinais de progresso. Países como Uganda, Tanzânia e África do Sul alcançaram mais de 97% de cobertura de tratamento entre gestantes vivendo com HIV, reduzindo significativamente a transmissão vertical — quando o vírus é transmitido da mãe para o bebê durante a gestação, parto ou amamentação.

Meninas adolescentes são as mais afetadas

Outro dado alarmante diz respeito aos adolescentes. Em 2023, 96 mil meninas e 41 mil meninos entre 15 e 19 anos foram infectados pelo HIV. Sete em cada dez novas infecções nessa faixa etária ocorreram entre meninas, principalmente na África Subsaariana, onde nove em cada dez infecções entre adolescentes aconteceram em meninas.

Essa desigualdade de gênero é resultado de uma combinação de fatores como violência sexual, desigualdade econômica, evasão escolar e falta de acesso à informação e serviços de saúde sexual e reprodutiva.

Rumo a 2030: é possível acabar com a aids entre crianças?

Diante desse cenário, a ONU lançou em 2022 a Aliança Global para Acabar com a Aids em Crianças até 2030, liderada por Unaids, Unicef e OMS. A iniciativa reúne governos, sociedade civil e agências internacionais em um esforço conjunto para eliminar a transmissão vertical e ampliar o tratamento pediátrico.

Angola, Moçambique, Nigéria, Tanzânia e Zimbábue estão entre os países que lideram essa aliança, com estratégias que incluem testagem precoce em bebês, distribuição descentralizada de medicamentos e combate ao estigma.

Mas os desafios seguem grandes. O acesso desigual a medicamentos infantis, o baixo investimento em tecnologias pediátricas e a invisibilidade das crianças nas políticas públicas são entraves que colocam em risco a meta de eliminar a aids como ameaça à saúde pública até 2030.

Fonte: Agência Aids