Boa notícia: Vacina contra hepatite A passa a ser ofertada no SUS para usuários de PrEP
O Ministério da Saúde anunciou, por meio da Nota Técnica Conjunta nº 184/2025, a inclusão da vacina contra hepatite A no rol de imunizações oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para pessoas que fazem uso da profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP). A decisão se baseia em dados epidemiológicos que apontam maior vulnerabilidade desse público à infecção pelo vírus da hepatite A (HAV), sobretudo por meio de práticas sexuais como o contato oro-anal.
A Agência Aids conversou com o infectologista Mateus Cardoso, médico do Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids de São Paulo (CRT/Aids-SP), que também atua no Ambulatório de Retenção e Vinculação da AHF Brasil no Instituto de Infectologia Emílio Ribas. Para ele, a decisão do Ministério da Saúde é acertada e estratégica:
“Como profissional que está na assistência, acredito ser uma decisão importante, positiva, baseada em evidências epidemiológicas e coerente com a estratégia de prevenção combinada das ISTs. Ao incluir a vacina contra a hepatite A para quem usa PrEP, o Ministério da Saúde está ampliando a proteção de um grupo que pode apresentar risco aumentado para essa infecção. Isso mostra um olhar atento à saúde sexual e à prevenção de forma mais completa. É uma ação que protege indivíduos e também ajuda a controlar possíveis surtos”, afirma.
Segundo o Ministério, a hepatite A é uma infecção viral transmitida por via fecal-oral — inclusive por meio de práticas sexuais como o sexo oral-anal — e que, embora não evolua para a forma crônica, pode causar sintomas intensos e, raramente, complicações graves como a falência hepática. Essa forma de transmissão tem sido mais comum em populações vulneráveis, como gays, HSH e pessoas que usam drogas.
Cardoso destaca que a vulnerabilidade dos usuários de PrEP à hepatite A está relacionada ao perfil comportamental e epidemiológico da população atendida por essa política, e não à profilaxia em si:
“Muitos usuários da PrEP pertencem a grupos com maior exposição a práticas sexuais que aumentam o risco de contato com o vírus. A vulnerabilidade não está relacionada ao uso da PrEP em si, mas ao perfil da população que a utiliza, o que justifica a inclusão dessa vacina no esquema de cuidados”, explica o médico.
A nota técnica define que a vacinação deve ser feita em duas doses, com intervalo de seis meses, e inclui orientações específicas de acordo com o histórico vacinal do usuário. Caso não haja exames sorológicos disponíveis, isso não deve impedir a imunização, conforme reforça o documento.
Para o infectologista, ampliar o acesso à vacina pode ter um impacto direto na prevenção de surtos e na saúde coletiva:
“Ampliar a vacinação pode ajudar a evitar novos surtos, reduz sobrecarga dos serviços de saúde, diminui internações e favorece o controle de novos episódios epidêmicos como os observados em grandes centros urbanos nos últimos anos. Quanto mais pessoas estão protegidas, o vírus encontra menos espaço para circular. Isso protege tanto quem se vacina quanto a comunidade ao redor”, afirma.
Apesar de a hepatite A ser frequentemente vista como uma doença autolimitada, ou seja, que se resolve sozinha, Cardoso alerta para os riscos de complicações e defende sua inclusão nas estratégias de prevenção combinada:
“A hepatite A pode causar sintomas fortes e, em alguns casos, complicações graves. Além disso, ela pode se espalhar rapidamente, especialmente em grupos com mais risco de exposição. Por isso, faz sentido incluí-la na estratégia de prevenção combinada, que busca reduzir o risco de várias infecções sexualmente transmissíveis ao mesmo tempo.”
No Brasil, surtos da infecção têm sido registrados com maior frequência entre homens que fazem sexo com homens (HSH), como ocorreu em São Paulo em 2018. A medida do Ministério da Saúde tem o objetivo de interromper esse padrão de transmissão e garantir proteção a grupos historicamente mais expostos à doença.
Esquema vacinal específico
A vacinação será feita em duas doses, aplicadas por via intramuscular, com um intervalo mínimo de seis meses. A vacina será ofertada de acordo com o histórico vacinal do usuário: pessoas sem nenhuma dose comprovada deverão iniciar o esquema completo; quem já recebeu uma dose poderá completar o esquema com a segunda; e pessoas com duas doses ou com sorologia reagente para hepatite A não precisarão ser vacinadas novamente.
Usuários de PrEP de 15 a 17 anos receberão a versão pediátrica da vacina (0,5 mL), enquanto aqueles com 18 anos ou mais serão imunizados com a dose adulta (1,0 mL).
Facilidade de acesso
A apresentação da receita da PrEP será suficiente para comprovar a indicação da vacina, sem necessidade de validação especializada. A vacinação poderá ser feita em qualquer serviço da Rede de Imunobiológicos para Pessoas com Situações Especiais (RIE), como os Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE), Centros Intermediários (CIIE) e salas de vacina públicas habilitadas.
Caso a unidade de saúde não disponha de exames sorológicos anti-HAV, a ausência desses exames não deverá ser impeditivo para a vacinação, reforçando o compromisso do SUS com a prevenção e com a continuidade do cuidado.
Os dados da imunização devem ser registrados no Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SIPNI), e-SUS APS ou outros sistemas integrados. O Ministério também destacou a importância de campanhas de comunicação para informar profissionais de saúde, gestores e a população sobre essa nova recomendação, buscando combater a desinformação e a hesitação vacinal.
Fonte:Agência Aids