Ativistas brasileiros celebram avanço do lenacapavir na África do Sul e cobram que o Brasil siga o mesmo caminho
O anúncio de que a África do Sul iniciará, em 2026, a implementação do lenacapavir — medicamento injetável de ação semestral com eficácia próxima de 100% na prevenção do HIV — repercutiu fortemente entre ativistas brasileiros. Representantes de movimentos de luta contra a aids destacaram o caráter histórico da decisão sul-africana e defenderam que o Brasil também adote medidas semelhantes, garantindo acesso universal e gratuito à nova tecnologia.
Para Eduardo Barbosa, coordenador do Movimento Paulistano de Luta Contra a Aids, a medida representa um avanço exemplar na resposta à epidemia.
“A África do Sul dá um passo importante para a prevenção e redução de novas infecções com a introdução do lenacapavir fornecido às populações mais vulneráveis. Saúde não é comércio — e, com a transferência de tecnologia e a produção local, mais pessoas poderão ter acesso gratuito e de forma universal”, afirmou.
Ele defende que o Brasil adote uma postura igualmente proativa.
“Precisamos ter a mesma coragem e iniciativa, chamar para a negociação e estabelecer prazos e metas, para que, através do Sistema Único de Saúde, possamos também aqui chegar mais longe. São vários desafios para manter um cenário onde novas infecções não ocorram e a prevenção combinada seja efetivada. Como sociedade civil, esta notícia é animadora e inspiradora para que aqui também trabalhemos para alcançar o mesmo êxito.”
A vice-presidente do Fórum das ONGs/Aids do Estado de São Paulo, Liliana Mussi, reforça que o lenacapavir responde a uma das maiores lacunas nos programas de prevenção ao HIV: a dificuldade de adesão à PrEP oral.
“Do ponto de vista técnico e epidemiológico, esse tipo de inovação atende a uma lacuna central identificada por programas de saúde pública no mundo: a dificuldade de manter a adesão prolongada à profilaxia oral pré-exposição (PrEP), principalmente entre mulheres, jovens, pessoas em contextos de vulnerabilidade social e indivíduos que enfrentam barreiras estruturais no acesso aos serviços de saúde”, explicou.
Para Liliana, a modalidade injetável — aplicada apenas duas vezes por ano — tem potencial de revolucionar a prevenção, especialmente em contextos de desigualdade.
“A injeção oferece uma alternativa com potencial de maior impacto populacional e melhor custo-efetividade em médio prazo. Mas sua tradução em políticas públicas dependerá de um esforço coordenado entre governos, organismos internacionais e sociedade civil. A ciência, isolada, não basta: é preciso garantir acesso universal, preços sustentáveis e políticas que integrem a prevenção biomédica à educação em saúde, à atenção primária e ao enfrentamento do estigma.”
Ela lembra ainda que o avanço sul-africano sinaliza o rumo certo num momento decisivo para as metas globais.
“A eficácia do lenacapavir reforça o papel da inovação tecnológica na eliminação do HIV como ameaça à saúde pública, mas também reacende a responsabilidade coletiva de garantir que esse avanço não aprofunde desigualdades e, sim, contribua para superá-las. A ciência por si só não faz a mudança: é preciso transformação em políticas, em prática, em vidas salvas, em histórias transformadas, em esperança que se concretiza.”
Da região Sul do país, a advogada Márcia Leão, integrante do Fórum de ONGs/Aids do Rio Grande do Sul, também celebra o anúncio como um marco global que une ciência, política e direitos humanos.
“Um marco histórico na resposta global ao HIV/aids, um avanço científico e político grandioso, principalmente por priorizar mulheres jovens e populações em situação de vulnerabilidade. Essa é a forma como recebo a notícia da incorporação do lenacapavir pela África do Sul”, afirmou.
Para Márcia, a medida simboliza um compromisso com a vida e com a soberania sanitária.
“A incorporação do lenacapavir é uma declaração de compromisso com os direitos humanos e a soberania sanitária. É reafirmar que a inovação tecnológica precisa estar a serviço da vida. Espero que essa medida inspire o Brasil e que tenhamos o lenacapavir incorporado ao SUS, garantindo a universalidade do acesso e a equidade em saúde. Saúde não pode visar o lucro ou o privilégio de poucas pessoas — é um bem maior e tem que ser acessível.”
Enquanto a África do Sul se prepara para dar início à distribuição do lenacapavir em 2026, a repercussão entre ativistas brasileiros reforça um consenso: o avanço científico precisa caminhar lado a lado com a vontade política. Para o movimento brasileiro de luta contra a aids, a decisão sul-africana não é apenas uma vitória da ciência, mas um chamado à ação — um lembrete de que a prevenção combinada e a equidade em saúde só se concretizam quando o direito à vida é colocado acima do lucro.
Redação da Agência de Notícias da Aids


