Ativista Observadore: “A PrEP injetável pode ser um divisor de águas – mas só com políticas públicas específicas”, alerta Thiago Jerohan, da Anaids

Diretamente da 13ª Conferência Internacional de Saúde em HIV/Aids (IAS 2025), realizada em Kigali, capital de Ruanda, Thiago Jerohan, da Articulação Nacional de Luta contra a Aids (Anaids) e ativista observadore presente na conferência, compartilhou suas impressões sobre os debates mais recentes relacionados à PrEP injetável e ao enfrentamento do estigma. Em boletim, Jerohan destacou os avanços apresentados por pesquisadores brasileiros e a presença do governo federal nas mesas da conferência, mas fez um alerta: sem políticas públicas voltadas às populações-chave, as novas tecnologias não alcançarão quem mais precisa.

“A PrEP oral já vem ajudando a reduzir os casos de infecção por HIV no Brasil, mas não chega de forma adequada às populações mais vulneráveis. A PrEP injetável pode facilitar o acesso, mas precisa vir acompanhada de estratégias específicas para garantir que ela chegue a quem está fora dos serviços de saúde tradicionais”, afirmou.

A profilaxia pré-exposição (PrEP) é uma estratégia preventiva altamente eficaz no combate ao HIV, e a nova formulação injetável de longa duração tem sido apontada como uma solução para superar barreiras como o uso diário de comprimidos. No entanto, Jerohan ressalta que apenas a tecnologia não basta: “Não é só sobre ter a injeção disponível. É sobre construir uma política que leve essa prevenção até travestis, mulheres negras, trabalhadoras do sexo, jovens gays e tantas outras pessoas que, por causa do estigma, nem sequer entram nos serviços de saúde.”

Estigma: o maior obstáculo

Além das mesas sobre PrEP, a conferência também reuniu especialistas, ativistas e pesquisadores em torno do tema do estigma. Segundo Jerohan, o Brasil tem feito importantes avanços no mapeamento dessa barreira social, principalmente com a produção de dados feita pela sociedade civil. A segunda edição do Índice de Estigma em relação ao HIV e à Aids foi lançada recentemente no país, com informações interseccionais sobre identidade de gênero, orientação sexual, direitos sexuais e reprodutivos e até mudanças climáticas.

“Esses dados precisam ser usados pelo poder público. Só assim a gente vai conseguir políticas públicas que melhorem a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV e, principalmente, que enfrentam o estigma diariamente. Esse ainda é o principal entrave para que se alcance a equidade na prevenção e no tratamento”, destacou.

Para Jerohan, a persistência do estigma está diretamente ligada à dificuldade de acesso aos serviços e à baixa adesão às estratégias de prevenção e cuidado. “As populações-chave muitas vezes são invisibilizadas pelas formas como os serviços de saúde são organizados. É urgente repensar esse modelo com a escuta e o protagonismo dessas pessoas”, completou.

A IAS 2025 chegou ao fim em Kigali, mas os desdobramentos das discussões prometem continuar reverberando nas políticas públicas. Para ativistas como Jerohan, o compromisso é claro: garantir que os avanços científicos se traduzam em justiça social e acesso universal ao cuidado.

Fonte: Agência Aids