Aids 2024: Pessoas com HIV em remissão representam esperança na luta contra aids
Três pessoas em remissão do HIV explicam como uma arriscada operação de transplante salvou as suas vidas, “prova viva” da esperança na luta contra o vírus.
Estes pacientes falaram sobre o seu tratamento durante a Conferência Internacional sobre a Aids em Munique, que termina na sexta-feira (26) e reúne especialistas, pesquisadores e ativistas para discutir a evolução do HIV.
Apenas sete pessoas no mundo são consideradas efetivamente curadas após receberem um transplante de células-tronco, um procedimento doloroso e arriscado que só é adequado para pacientes com HIV e leucemia agressiva.
Adam Castillejo, de 44 anos, também conhecido como o “paciente de Londres”, é um deles. Demorou “anos” até que ele pudesse ter certeza de que o transplante surtiu o efeito desejado, disse à AFP. “Não há um momento preciso em que te dizem: ‘Você está curado’, isso leva tempo”, acrescentou.
Marc Franke, de 55 anos, o “paciente de Düsseldorf”, também foi submetido a uma bateria de exames para garantir que o tratamento estava funcionando.
“Os médicos fizeram muitos testes para terem 100% de certeza antes de interromperem o tratamento antirretroviral”, que reduz a quantidade de HIV no sangue.
Estes pacientes tinham câncer de sangue e se beneficiaram de um transplante de células-tronco que renovou profundamente os seus sistemas imunológicos, uma operação que apresenta um risco de morte de 10%.
Insistindo nesta “enorme” taxa de mortalidade e outras possíveis complicações, Marc Franke confessa que não pode “recomendá-lo a ninguém”. Ele ainda considera que, em retrospectiva, “teria preferido tomar um comprimido (antirretroviral) por dia” a passar pelo exaustivo processo do transplante.
Casos muitos raros
No início deste mês, os médicos relataram um sétimo caso provável de cura do HIV: um alemão de 60 anos não tem mais vestígios do vírus no corpo. Apelidado de “novo paciente em Berlim”, ele recebeu um transplante de medula óssea para leucemia em 2015 e parou de tomar antirretrovirais no final de 2018.
Os pesquisadores dizem que ele agora parece estar curado do HIV e do câncer.
Sharon Lewin, presidente da Sociedade Internacional da Aids, classificou estes casos como “muito emocionantes”, mas admitiu que essa terapia só é aplicável a um número muito pequeno de pessoas.
A terapia só curou eficazmente “sete entre 40 milhões de pessoas que vivem com HIV”, lembrou ela. “São casos muito raros, mas são uma fonte de esperança para a pesquisa”, afirmou.
Todos os sete pacientes, exceto um, receberam células-tronco de doadores com uma mutação rara de um gene chamado CCR5, conhecido por impedir a entrada do HIV nas células. Esses doadores herdaram duas cópias do gene mutado, uma de cada pai.
O novo paciente de Berlim é o primeiro a receber células-tronco de um doador que herdou apenas uma cópia, uma configuração muito mais comum que dá esperança de encontrar mais potenciais doadores.
Paul Edmonds, na casa dos 60 anos, o terceiro paciente a falar sobre a sua experiência durante a conferência, reconheceu que o transplante de células-tronco “não é para todos porque acarreta muitos riscos”.
No entanto, a sua experiência e a dos outros pacientes proporcionam “esperança de uma possível cura”. “Somos a prova viva de que isso pode acontecer”, disse ele.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), foram registradas 1,3 milhão de novas infecções por HIV no ano passado, enquanto 39 milhões de pessoas vivem com o vírus.
Timothy Ray Brown, o primeiro “paciente de Berlim”, foi a primeira pessoa declarada curada do HIV em 2008. Ele morreu de câncer em 2020.
Fonte: AFP
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