“A PrEP injetável tem potencial para aprimorar a resposta da prevenção ao HIV no Brasil”, diz infectologista Beatriz Grinsztejn, presidente da IAS
Durante a Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI) 2025, realizada em março, em São Francisco (EUA), pesquisadores brasileiros apresentaram os resultados do estudo ImPrEP CAB Brasil, que avaliou o uso do cabotegravir injetável na prevenção ao HIV. O medicamento, aplicado a cada dois meses, mostrou 100% de eficácia entre os participantes que o utilizaram, reforçando seu potencial como alternativa à PrEP oral no Sistema Único de Saúde (SUS).
O estudo, conduzido em seis centros públicos brasileiros e coordenado pela Fiocruz, envolveu 1.447 participantes que puderam escolher entre o cabotegravir injetável de longa ação e a PrEP oral (tenofovir/entricitabina). O cabotegravir foi a escolha de 83% dos voluntários e, entre eles, não houve nenhum caso de infecção pelo HIV. Já entre os que optaram pela PrEP oral, foram registrados 10 casos de infecção.
Além da alta eficácia, o estudo revelou melhores índices de adesão entre os usuários do cabotegravir, com 95% de cobertura, contra 58% no grupo de PrEP oral do estudo e 48% no grupo de comparação do SUS.
A infectologista Beatriz Grinsztejn, presidente da International Aids Society (IAS) e chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em IST, HIV/Aids (LapClin Aids) da Fiocruz, lidera o estudo e destaca o impacto dos resultados:
“Os principais resultados do ImPrEP CAB Brasil mostraram que, entre os jovens de 18 a 30 anos que iniciaram PrEP em serviços públicos de saúde no Brasil, 83% optaram pelo cabotegravir de longa ação. A adesão às injeções foi muito alta, com 94% das aplicações realizadas no prazo. A cobertura de PrEP foi de 95% no grupo CAB-LA, significativamente superior aos grupos que usaram PrEP oral.”
Segundo a especialista, os achados reforçam o potencial do cabotegravir injetável para ampliar a proteção contra o HIV, especialmente entre populações vulneráveis.
“Não houve nenhuma soroconversão entre os usuários de CAB-LA, enquanto houve um caso entre os usuários de PrEP oral do estudo e nove casos no grupo de comparação do SUS. Esses dados confirmam que essa estratégia pode contribuir para superar desafios de adesão, principalmente entre jovens, pessoas negras e minorias sexuais e de gênero.”
Além disso, Grinsztejn destaca que a aceitação do medicamento foi excelente, com 83% dos participantes elegíveis escolhendo CAB-LA. Houve também migração da PrEP oral para o injetável ao longo do estudo, reforçando a preferência dos participantes pela opção de longa duração.
“A proporção de pessoas que mudaram sua escolha inicial de PrEP oral para CAB-LA foi maior (9%) do que aquelas que migraram do CAB-LA para oral (4%). Isso reforça o interesse dos jovens em utilizar PrEP de longa duração como estratégia de prevenção.”
Cabotegravir no SUS: um caminho promissor, mas ainda incerto
O cabotegravir de longa ação, aprovado pela Anvisa em junho de 2023, ainda não está disponível no SUS. No início de 2025, a GSK/ViiV Brasil, fabricante da medicação, e o Ministério da Saúde iniciaram negociações para viabilizar sua incorporação à rede pública, mas ainda não há previsão para sua inclusão.
Atualmente, o Brasil conta com 104 mil pessoas em uso da PrEP oral, um avanço importante na prevenção ao HIV. No entanto, os desafios relacionados à adesão e à continuidade do tratamento ainda são barreiras significativas.
O infectologista Rodrigo Zilli, diretor médico da GSK/ViiV Healthcare, reforça a necessidade de ampliar as opções de prevenção:
“A inclusão da PrEP injetável no SUS seria uma conquista para todos os usuários da rede pública. Sua formulação de longa duração favorece o sigilo, reduz o estigma e simplifica a rotina de prevenção, tornando-se uma ferramenta fundamental para o enfrentamento do HIV no Brasil.”
Os resultados do ImPrEP CAB Brasil oferecem novas evidências sobre o uso de PrEP injetável no contexto da saúde pública brasileira, contribuindo para o debate sobre a ampliação das opções de prevenção ao HIV no país.
Fonte: Agência Aids