Aplicativo ReprodutHIVa leva informação segura a mulheres vivendo com HIV e aids, destaca Agência USP
Diante das barreiras no acesso à informação sobre saúde sexual e reprodutiva, especialmente entre mulheres vivendo com o vírus da imunodeficiência humana (HIV) e a síndrome da imunodeficiência adquirida (aids), tecnologias educacionais vêm se consolidando como estratégias promissoras para fortalecer o autocuidado. Foi nesse contexto que surgiu o ReprodutHIVa, aplicativo desenvolvido pela aluna Karyanna Alves de Alencar Rocha, doutorada pelo Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, sob orientação da professora Renata Karina Reis.
O projeto nasceu da necessidade de disponibilizar informações seguras e acessíveis para mulheres vivendo com HIV e aids, sobretudo no que se refere às escolhas reprodutivas e ao cuidado com a saúde sexual. “A percepção surgiu durante a minha atuação prática na Residência em Enfermagem em Saúde da Mulher, quando observei que, muitas vezes, essas mulheres enfrentam barreiras como estigma, preconceito e dificuldades de diálogo com os serviços de saúde, o que resulta em desigualdades no acesso a orientações qualificadas sobre seus direitos e cuidados reprodutivos”, explica Karyanna.
Segundo o Ministério da Saúde, em 2022 cerca de 39 milhões de pessoas viviam com HIV, sendo 53% mulheres e meninas. Nesse mesmo ano, 46% das novas infecções ocorreram nesse grupo e, entre as gestantes, 82% tiveram acesso a medicamentos antirretrovirais para prevenir a transmissão vertical. Ainda assim, o acompanhamento contínuo durante a gestação, parto e pós-parto segue como desafio global.
A criação do aplicativo foi conduzida como estudo metodológico baseado na Teoria do Autocuidado de Orem e nas etapas do design thinking — etapas criativas e colaborativas de resolução de problemas complexos que envolvem empatia, definição, ideação, prototipagem e teste. O conteúdo foi produzido com base em literatura científica e protocolos clínicos, desenvolvido nas linguagens Dart e Flutter (sendo Dart a linguagem de programação do Google, e o Flutter, uma ferramenta que usa essa linguagem para criar aplicativos para dispositivos móveis com um único código, de forma rápida e fácil), com apoio de design gráfico e compatibilidade com os sistemas Android e iOS.
Durante o desenvolvimento, surgiram desafios como o medo de julgamentos por parte das entrevistadas e a escassez de informações claras sobre planejamento reprodutivo. “Esses elementos orientaram diretamente a definição dos conteúdos e funcionalidades do ReprodutHIVa. Por isso, o aplicativo foi estruturado em três direcionamentos principais: quero engravidar, não quero engravidar e estou grávida, permitindo que cada usuária encontre orientações específicas para sua realidade. Além disso, o design thinking serviu de orientação para o desenvolvimento de um aplicativo com linguagem acessível, recursos visuais amigáveis e informações baseadas em evidências científicas, tornando o conteúdo não apenas útil, mas também acolhedor, promovendo o autocuidado.”
Para validação envolveu 25 especialistas em saúde da mulher e sete mulheres vivendo com HIV e aids, em coletas remotas e presenciais em Ribeirão Preto. Já a usabilidade foi avaliada com nove usuárias, 16 profissionais da saúde e especialistas em tecnologia, por meio da System Usability Scale (um questionário com afirmações sobre o sistema, em que o usuário deve expressar seu nível de concordância em uma escala de 1 a 5). Aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da EERP, os resultados do questionário apontaram viabilidade técnica, validade de conteúdo e boa usabilidade, além de evidenciarem o potencial do aplicativo para ampliar a acessibilidade à informação, fortalecer o protagonismo feminino e apoiar políticas públicas de eliminação da transmissão vertical do HIV e aids.
Outro diferencial é a preocupação com a privacidade. “O aplicativo foi desenvolvido com camadas de proteção de dados, sem coleta de informações pessoais identificáveis e em ambiente reservado, preservando o anonimato das usuárias. Além disso, adotou uma interface discreta, sem elementos que possam expor a condição sorológica da mulher ao ser visto por terceiros. Para garantir acessibilidade, foram priorizados textos objetivos, ícones intuitivos e recursos visuais de fácil compreensão, assegurando que mulheres com diferentes níveis de escolaridade e familiaridade digital pudessem utilizá-lo com segurança e autonomia”, relata a profissional.
Para orientar o desenvolvimento, foi realizada uma revisão integrativa da literatura, que identificou tecnologias educacionais já desenvolvidas para mulheres vivendo com HIV e aids, os principais conteúdos abordados e as lacunas existentes na saúde sexual e reprodutiva. Essa revisão correspondeu à primeira etapa do design thinking e encontra-se publicada neste link.
O aplicativo já está disponível nas plataformas de distribuições digitais, como o Google Play e a App Store.