Lenacapavir é aprovado nos EUA como primeira injeção semestral para prevenção do HIV

O Food and Drug Administration (FDA), agência regulatória dos Estados Unidos, aprovou nesta quarta-feira (18) o uso do lenacapavir como a primeira injeção de longa duração indicada para prevenir o HIV. A aplicação será feita duas vezes por ano, o que representa um marco na história da prevenção da infecção pelo vírus.

Desenvolvido pela farmacêutica Gilead Sciences, o lenacapavir já era utilizado desde 2022 no tratamento de pessoas com HIV resistente a outras terapias. No entanto, estudos recentes demonstraram que a mesma substância tem eficácia também na prevenção da infecção, funcionando como uma Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) altamente eficaz.

Um passo além dos comprimidos

Atualmente, a PrEP disponível é feita com comprimidos diários, como o Truvada, o que exige disciplina, acompanhamento regular e enfrenta barreiras relacionadas ao estigma. O lenacapavir surge como uma alternativa revolucionária: a aplicação semestral aumenta a adesão, reduz os riscos de abandono e oferece uma eficácia superior em impedir que o vírus entre nas células.

“A ciência nunca esteve tão próxima de uma vacina contra o HIV”, afirmaram especialistas envolvidos nos estudos clínicos. Tanto que, em 2024, a revista Science elegeu o lenacapavir como o maior avanço científico do ano.

Ainda sem previsão para o Brasil

Apesar da aprovação pelo FDA, o medicamento ainda não tem data definida para começar a ser distribuído nos Estados Unidos, e o valor do tratamento também não foi divulgado. A Gilead informou que firmou acordos com seis laboratórios para garantir a produção da droga a baixo custo para países de baixa renda, mas o Brasil não está incluído nesse grupo.

Enquanto isso, o país se prepara para receber outra PrEP injetável: o cabotegravir, da farmacêutica GSK, que será aplicado a cada dois meses e deve ser incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS) ainda no segundo semestre de 2025.

Quem pode usar a PrEP?

Segundo o infectologista Alexandre Naime Barbosa, chefe do Departamento de Infectologia da Unesp, a PrEP é indicada para qualquer pessoa com maior exposição ao HIV, e não apenas para populações tradicionalmente consideradas em risco. Isso inclui quem tem múltiplos parceiros, não usa preservativo com regularidade ou vive em um relacionamento sorodiferente (quando uma das pessoas vive com HIV e a outra não).

Além da proteção direta, o uso da PrEP contribui para a promoção da saúde sexual e o monitoramento regular de outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). “Tomar PrEP não deveria ser visto com desconfiança, e sim com admiração”, afirma o médico. “É como usar cinto de segurança ou tomar uma vacina — um gesto consciente de autocuidado.”

A chegada do lenacapavir à cena internacional reacende o debate sobre acesso, equidade e inovação tecnológica na resposta global ao HIV. Para ativistas e especialistas, o desafio agora é garantir que os avanços científicos cheguem também a quem mais precisa.

Fonte: Agência Aids