Como conversar com o parceiro sobre fazer o teste para detectar ISTs? – UOL
Conversar com o parceiro ou parceira sobre testes para Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) ainda é um desafio para muita gente. Mesmo em tempos de maior liberdade sexual e informação disponível, sugerir um exame muitas vezes causa desconforto — como se implicasse desconfiança ou acusação. No entanto, diante do aumento de casos de HIV, sífilis e outras ISTs, esse tipo de conversa deveria fazer parte do cuidado básico em qualquer relação, seja ela casual ou duradoura.
Segundo o Boletim Epidemiológico HIV/Aids 2024, divulgado pelo Ministério da Saúde, foram registrados 4,5% mais casos de HIV em 2023 do que no ano anterior. A faixa etária entre 20 e 29 anos concentrou 37,1% das novas notificações, e 70,7% dos casos foram identificados em pessoas do sexo masculino. A taxa de mortalidade por aids caiu para 3,9 óbitos por 100 mil habitantes, a menor desde 2013, mas especialistas alertam que isso não significa que o problema esteja resolvido. Muito pelo contrário: a alta nos diagnósticos acompanha a expansão do acesso à testagem e da PrEP, o que reforça a importância da prevenção.
Dá para confiar?
Para muitas mulheres, pedir que o parceiro se teste ainda é visto como uma provocação. Mas a falta de diálogo pode ser mais arriscada do que constrangedora. Afinal, quando alguém se recusa a usar preservativo ou a fazer exames, já é um sinal de alerta sobre o tipo de relação que está disposto a oferecer.
Acredita-se que a alta nas ISTs entre jovens tem relação com uma mudança geracional. Anos atrás, um diagnóstico de HIV era uma sentença de morte. Isso gerava medo e maior adesão às campanhas de prevenção. Com a evolução dos tratamentos, as doenças passaram a ser vistas como controláveis e, com isso, o uso da camisinha caiu.
Essa falsa sensação de segurança, somada à ideia equivocada de que ISTs atingem apenas “certos grupos”, contribui para o crescimento dos números. No entanto, não existe mais o conceito de “população de risco”: qualquer pessoa sexualmente ativa que dispense o preservativo está suscetível.
Como puxar esse papo?
Mesmo sendo um assunto delicado, há formas de introduzir a conversa de maneira mais leve e eficaz:
- Use dados como gancho: “Nossa, você viu que os casos de HIV cresceram entre os jovens no Brasil? Assustador, né?” pode ser um bom ponto de partida.
- Convide para testarem juntos: Sugerir um check-up em casal, incluindo exames de ISTs, pode transformar o desconforto em uma atitude de cuidado mútuo.
- Não abra mão da camisinha: Mesmo com exames recentes, a janela imunológica — o tempo entre a infecção e sua detecção — é um fator de risco. A proteção deve ser constante.
- Inclua outras ISTs no radar: Sífilis, hepatites, clamídia, gonorreia e HPV também merecem atenção. Testar só para HIV não basta.
Testagem gratuita
No Brasil, os testes para HIV e outras ISTs estão disponíveis gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS). Muitos postos de saúde oferecem exames rápidos e confidenciais, inclusive para quem não apresenta sintomas. O ideal é que pessoas sexualmente ativas se testem regularmente e incluam isso em suas rotinas de autocuidado — com ou sem parceiro fixo.
Fonte: Flávia Fairbanks, ginecologista e especialista em sexualidade humana