Rio 2025: Katia Souto defende protagonismo das escolas na prevenção das ISTs e na promoção da saúde sexual de adolescentes
Em meio às discussões do XV Congresso da Sociedade Brasileira de Doenças Sexualmente Transmissíveis, o papel da escola como aliada na prevenção das ISTs foi tema central de uma mesa realizada na manhã de sexta-feira (6), no Rio de Janeiro. A conversa, conduzida por Carina Bernardes, contou com a participação da sanitarista Katia Souto, doutora em Saúde Pública e coordenadora-geral de Determinantes Sociais da Saúde do Ministério da Saúde, que trouxe uma análise profunda sobre educação sexual, vacinação e o fortalecimento do vínculo entre jovens e os serviços de saúde.
Durante a fala, Katia reforçou a importância do Programa Saúde na Escola (PSE), uma política pública intersetorial que vem sendo retomada com força desde 2023. O programa, criado formalmente em 2007, busca integrar as redes de saúde e educação para promover ações estruturadas de prevenção e promoção da saúde com foco especial na adolescência.
“A escola é o espaço onde a gente consegue alcançar mais de 80% das crianças e adolescentes. É um ambiente propício para trabalhar temas como sexualidade, prevenção de violências, direitos reprodutivos e vacinação”, afirmou Katia. Segundo ela, a retomada do PSE tem ocorrido com foco em cinco grandes temáticas prioritárias: vacinação, alimentação saudável, saúde mental, prevenção das violências e promoção da cultura de paz e dos direitos humanos.
Educação sexual e vacina contra o HPV: uma urgência
Uma das ações estratégicas do programa é ampliar a cobertura vacinal de adolescentes dentro do ambiente escolar, especialmente contra o HPV. Para isso, o governo federal passou a oferecer incentivos financeiros aos municípios que realizarem vacinação nas escolas por meio das equipes de saúde da atenção básica.
“Mais de 80% das mães entrevistadas em pesquisa recente disseram preferir que seus filhos fossem vacinados na escola. É um ambiente seguro e acessível”, destacou Katia, reforçando o compromisso com a ciência e com a defesa da vida diante do avanço de discursos conservadores contrários à vacinação e à educação sexual.
Fortalecimento da formação e participação juvenil
Outro eixo central apresentado foi a formação de lideranças juvenis nos territórios. Em 2024, o Ministério da Saúde deu início a um projeto piloto em quatro estados, com apoio de universidades e institutos federais, para capacitar adolescentes como promotores de saúde e cidadania em suas escolas. A expectativa é formar até mil jovens em ações de extensão e pesquisa, com ênfase em diversidade, direitos, prevenção e bem-estar.
“Não estamos falando apenas para os adolescentes. Estamos falando com eles. E isso muda completamente a perspectiva de atuação”, explicou Katia, que também anunciou a produção de novos materiais didáticos e audiovisuais voltados para diferentes faixas etárias, desde a creche até a Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Desafios contemporâneos: preconceito, desinformação e masculinidade tóxica
Katia chamou atenção para a queda na idade de início da vida sexual — hoje em torno dos 13 anos — e a persistência de preconceitos que dificultam o acesso de meninos e jovens aos serviços de saúde. “Os meninos ainda são ensinados a não cuidar dos seus corpos, como se isso fosse fragilidade. Precisamos falar de masculinidades de forma urgente e acolhedora”, defendeu.
Ao final da apresentação, destacou o papel da escola como espaço de resgate da humanidade, da ciência e da democracia. “Estamos em um momento em que é preciso reconstruir pontes, e a educação é um caminho para transformar não apenas o conhecimento, mas também os afetos e as práticas sociais.”
Fonte: Agência Aids