Estudo brasileiro mostra que PrEP injetável tem maior adesão entre jovens do que a versão oral
Um estudo brasileiro apresentado na 32ª Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI), realizada em março em São Francisco (EUA), trouxe resultados animadores sobre a eficácia da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) injetável de longa duração na prevenção do HIV. Conduzido pelo grupo de estudos ImPrEP CAB Brasil – uma iniciativa da Fiocruz em parceria com o Ministério da Saúde e instituições nacionais e internacionais – o estudo aponta que a versão injetável do medicamento pode alcançar maior adesão entre jovens de populações-chave do que a PrEP oral diária, atualmente disponível no SUS.
A pesquisa envolveu 1.447 participantes com idades entre 18 e 30 anos, incluindo homens cisgêneros gays e bissexuais, pessoas trans e não-binárias, que nunca haviam utilizado PrEP. Esses voluntários puderam escolher entre o uso da PrEP oral diária ou a injetável com Cabotegravir de longa duração e iniciaram o uso já na primeira visita. A maioria (83%) optou pela versão injetável – e com bons resultados: a taxa de cobertura de PrEP chegou a 95%, com 94% dos participantes comparecendo às consultas para aplicação das injeções dentro do período adequado.
Maior proteção, menos infecções
Os dados são expressivos quando comparados com outros dois grupos analisados no estudo. Entre os participantes que optaram pela PrEP oral diária, a cobertura foi de 58%. Já em um grupo externo de comparação, formado por 2.411 usuários do SUS com características semelhantes, a taxa foi ainda menor: 48%. No grupo que utilizou a PrEP injetável, não houve nenhum caso de infecção por HIV, enquanto entre os usuários de PrEP oral foram registradas nove soroconversões.
“O estudo mostra que a implementação do Cabotegravir injetável para populações vulnerabilizadas é viável e altamente efetiva”, avalia a infectologista Beatriz Grinsztejn, pesquisadora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) e coordenadora do ImPrEP CAB Brasil. “A cobertura foi muito alta, o que se reflete diretamente na proteção ao HIV.”
Barreiras de adesão e novas possibilidades
A dificuldade em manter a adesão à PrEP oral diária é uma das principais barreiras para a prevenção ao HIV, especialmente entre jovens e pessoas em maior situação de vulnerabilidade. O Cabotegravir, administrado por injeção intramuscular a cada dois meses, surge como uma alternativa promissora para quem enfrenta desafios com o uso contínuo de comprimidos.
A pesquisadora lembra que o medicamento permanece ativo no músculo por cerca de dois meses, o que reduz o risco de falhas na proteção. “Esperamos que essa tecnologia seja incorporada ao SUS. Ela tem potencial para ampliar o alcance da PrEP, incluindo mais pessoas e garantindo maior diversidade de usuários protegidos”, diz Beatriz.
Estudo é o maior da América Latina sobre PrEP de longa ação
O ImPrEP CAB Brasil é, até o momento, o maior estudo de implementação de PrEP de longa duração realizado na América Latina. A pesquisa foi conduzida em seis cidades brasileiras – São Paulo, Rio de Janeiro, Campinas, Salvador, Florianópolis e Manaus – e teve início em outubro de 2023. O acompanhamento dos participantes terá duração mínima de 48 semanas.
Além da Fiocruz e do Ministério da Saúde, o estudo contou com a participação do Centro de Referência em Treinamento para IST/Aids (São Paulo), do Centro de Referência em IST/Aids de Campinas, da Fundação de Medicina Tropical Heitor Vieira Dourado (Manaus) e da Universidade da Califórnia.
Próximos passos: Lenacapavir a cada seis meses
A equipe já prepara o próximo passo da pesquisa: um novo estudo com o medicamento Lenacapavir, outra alternativa injetável de longa duração, com aplicação semestral. A nova fase, também sob coordenação da Fiocruz, será realizada nos mesmos centros de pesquisa e contará com uma unidade adicional em São Paulo. Desta vez, o foco será em pessoas de 15 a 30 anos.
Fonte: Agência Aids com informações da Agência Fiocruz