CROI 2025: Metade dos homens em estudo sobre cura do HIV permaneceu sem tratamento por quase um ano após injeção de anticorpos

Dois estudos apresentados na Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI 2025), realizada em São Francisco, trouxeram novos avanços na pesquisa pela cura do HIV. As pesquisas mostraram que uma combinação de anticorpos amplamente neutralizantes (bnAbs) permitiu que parte dos participantes ficasse sem terapia antirretroviral (TARV) por períodos prolongados – em alguns casos, por quase dois anos.

Os estudos, conhecidos como RIO e FRESH/Gilead, avaliaram diferentes populações e estratégias, mas apresentaram resultados promissores para o controle do HIV sem o uso contínuo de medicamentos diários.

Estudo RIO: 39% permaneceram sem necessidade de TARV por mais de 14 meses

O estudo RIO, conduzido no Reino Unido e na Dinamarca, contou com 68 participantes que passaram por uma interrupção analítica do tratamento (ATI) – um protocolo controlado em que a TARV é suspensa para avaliar novas estratégias terapêuticas.

Metade dos participantes recebeu infusões de placebo, enquanto a outra metade foi tratada com dois bnAbs de longa duração: 3BNC117 e 10-1074. Os anticorpos atacam diferentes partes do envelope do HIV, impedindo a infecção das células CD4.

Os resultados demonstraram que:

– Na 20ª semana após a interrupção da TARV, 65% dos que receberam os anticorpos ainda tinham carga viral abaixo de 1.000 (ou 75% dos que permaneceram no estudo);
– Na 48ª semana, 57% continuavam sem necessidade de retomar o tratamento;
– Na 72ª semana, 39% ainda não haviam apresentado rebote viral significativo;
– Sete participantes (24%) nunca tiveram carga viral acima de 50 cópias/ml ao longo de todo o período.

A pesquisadora principal, professora Sarah Fidler, do Imperial College London, destacou que, embora alguns participantes tenham apresentado resistência ao anticorpo 10-1074, a maioria conseguiu retardar a progressão do HIV sem necessidade de TARV.

Outro achado importante foi que o efeito dos bnAbs não se limitou à neutralização do vírus. Eles também induziram um *efeito vacinal*, fortalecendo a resposta imune dos participantes contra o HIV.

Estudo FRESH/Gilead: primeiros testes em mulheres jovens na África do Sul

Já o estudo FRESH (Females Rising through Education, Support and Health) avaliou 20 mulheres jovens vivendo com HIV em KwaZulu-Natal, na África do Sul – uma das regiões com maior incidência da doença no mundo.

As participantes começaram a TARV poucos dias após a infecção, no estágio mais precoce possível (Fiebig 1), e permaneceram em tratamento por uma média de sete anos antes da interrupção controlada. Diferentemente do estudo RIO, foram usados outros anticorpos: VRC07-523 e CAP256V2.

Os principais achados foram:

– 10 participantes precisaram retomar a TARV antes da 48ª semana devido ao reaparecimento do HIV;
– Outros seis apresentaram rebote tardio da carga viral, mas conseguiram adiar a retomada da TARV até a semana 48;
– Quatro participantes permaneceram sem necessidade de TARV por mais de 1,5 anos – dois com carga viral indetectável e dois com cargas virais abaixo de 2.000 cópias/ml.

O pesquisador principal, professor Thumbi Ndung’u, destacou que algumas participantes apresentaram um padrão oscilante de carga viral, com o HIV reaparecendo e desaparecendo, sugerindo uma forte interação entre o vírus e o sistema imunológico fortalecido pelos bnAbs.

O impacto dos bnAbs na busca pela cura

Os resultados dos estudos RIO e FRESH reforçam a importância dos anticorpos amplamente neutralizantes na pesquisa pela cura do HIV. Como destacou o pesquisador Michael Peluso no workshop de abertura da CROI 2025, os bnAbs não apenas neutralizam o vírus, mas também melhoram as respostas imunológicas do corpo contra ele.

Embora esses estudos ainda estejam em estágios iniciais, eles representam avanços significativos no objetivo de reduzir a dependência da TARV e, futuramente, alcançar uma cura funcional para o HIV.

Fonte: Redação da Agência Aids com informações do site Aidsmap