Preenchimento facial para lipoatrofia ajuda a resgatar autoestima de pessoas vivendo com HIV/aids

O preenchimento facial para tratar a lipoatrofia, condição causada pela perda de gordura no rosto associada ao uso de antirretrovirais e ao envelhecimento, tem se mostrado uma estratégia valiosa para melhorar a autoestima e a qualidade de vida de pessoas vivendo com HIV ou aids. Recentemente, o Ministério da Saúde, em parceria com as Sociedades Brasileiras de Infectologia e Dermatologia, reforçou a importância dessa abordagem em uma nota técnica.

A lipoatrofia facial, parte da síndrome de lipodistrofia, é um dos efeitos colaterais que ainda afetam milhares de pessoas em tratamento contra o HIV. Apesar dos avanços nos medicamentos e da substituição de antirretrovirais mais antigos, como a zidovudina e o efavirenz, que estão associados à condição, muitos pacientes ainda enfrentam as consequências físicas e emocionais dessa complicação.

O estigma social ainda é uma das maiores barreiras enfrentadas por pessoas que vivem com HIV/aids. Para o dr. Artur Kalichman, coordenador-geral de Vigilância de HIV e Aids do Ministério da Saúde, é fundamental que o Estado promova estratégias que reduzam essas barreiras. “A resposta à aids deve ser integral. O uso do PMMA (polimetilmetacrilato), desde que realizado de acordo com as orientações do Ministério da Saúde, é seguro e tem um impacto positivo na aparência e na qualidade de vida das pessoas vivendo com aids”, afirma.

Desde 2010, apenas um serviço no estado de São Paulo realizou mais de 4.500 procedimentos de preenchimento facial com PMMA, sem registros de complicações graves. Isso demonstra a segurança e a eficácia do método quando bem executado.

Avanços e inclusão no SUS

O preenchimento facial foi incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS) como parte da resposta nacional à epidemia de HIV/aids, especialmente após a publicação do Manual de Tratamento da Lipoatrofia Facial. Este documento técnico estabeleceu diretrizes para a realização de procedimentos reparadores, além de promover capacitações e apoio técnico aos estados para expandir o acesso.

O impacto do preenchimento facial vai além das melhorias físicas. Segundo José Cândido, representante da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e Aids (RNP+ Brasil), o procedimento transforma a forma como as pessoas com HIV se veem e são vistas pela sociedade. “O impacto é muito grande, porque aumenta a autoestima das pessoas, fazendo com que elas saiam mais de casa. O preenchimento facial melhora a imagem, pois a pessoa não fica com a face murcha. Não queremos voltar à imagem de Cazuza”, destaca.

Com o objetivo de garantir que mais pessoas tenham acesso a esse cuidado, gestores e técnicos do Departamento de HIV, Aids, Tuberculose e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde (Dathi/MS) planejam discutir o tema com a comunidade científica, representantes estaduais e municipais, além de movimentos sociais. A ideia é formular estratégias que assegurem a realização de procedimentos reparadores para pessoas afetadas pela lipoatrofia em todo o país.

* Com informações do Ministério da Saúde.